quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Ritmos e modificações do espaço urbano

por Thiago Girino
Alguns fenômenos que ocorrem dentro do perímetro urbano podem alterar a sua forma e mudar a velocidade do fluxo de mercadorias, atuando assim de forma impactante no ritmo do espaço.
Entende-se como ritmo a circulação constante tanto de pessoas como de mercadorias, o que é primordial para a reprodução do sistema capitalista.
Sendo assim a cidade passa por um processo de transformação. O comércio 24 horas é um exemplo visual dessa mudança. Para que o comércio 24 horas possa permanecer ativo com sucesso, ele necessita de algumas "vantagens" que o espaço urbano deve propiciar. Dentro desse conjunto de vantagens estão as rodovias, estradas, ruas, avenidas, iluminação, segurança, etc. Desse modo, conforme a cidade vai ampliando sua mancha e tendo um desenvolvimento tanto econômico quanto social, a demanda pelo comércio 24 horas será fundamental para ampliação do lucro.
O sistema de funcionamento 24 horas está incluído na lista do que podemos considerar de "novas formas comerciais". Estes novos modelos comerciais surgiram no período do pós-Segunda Guerra, junto com a mundialização da economia e a homogenização do comércio.
O setor varejista (mais precisamente os hipermercados, supermercados e lojas de conveniência), são grandes agentes que determinam o ritmo e a transformação do espaço.
Na questão do ritmo por usarem o auto-serviço, pela quantidade de produtos de toda sorte, por dar condições para que o consumidor faça a sua "compra do mês" com o auxilio do automóvel, entre muitos outros fatores que potencializam o fluxo das mercadorias, esse tipo de estabelecimento altera não só o ritmo do capital, mais também o ritmo social. Economicamente, isso é bom de muitas formas para a reprodução do capital. Para Lefebvre (1991) o tempo pode ser dividido em três categorias:
* Tempo obrigatório: O trabalho profissional
*Tempo livre: O dos lazeres
*Tempo imposto: Das exigências diversas fora do trabalho, como transportes, das vindas, das formalidades, etc.
Embora as atividades praticadas entre esses tempos sejam diferentes, uma coisa é semelhante entre eles. Nos três períodos existe o consumo. Sendo assim, a necessidade da busca incessante do lucro faz surgir dentro do espaço pontos de produção e consumo presentes a todo instante (fator que se intensificou após a revolução industrial), visando a satisfação das necessidades, a opção de um horário confortável para o consumo e sem duvida a maior circulação de capital.
A transformação do espaço é fruto da necessidade de consumir. Se um estabelecimento com o poder de centralidade como de um shopping center ou um hipermercado se instala numa área periférica de uma região urbanizada, todo o espaço do entorno sofrerá modificações que irão favorecer e acrescentar a faixa comercial daquela determinada região. A transformação ocorrerá de diversas formas. A estrutura viária será melhorada e implantada de forma que favoreça a zona comercial. A partir disso o espaço será valorizado pelos benefícios recebidos, o que atrairá tanto o setor imobiliário quanto ao setor comercial.
No setor imobiliário a atenção é mais para a classe alta, pois a criação de espaços centrais chama a atenção de condomínios e casas de alto padrão.
Já o setor comercial vem para "complementar" a atividade comercial, oferecendo opções de consumo para que o consumidor possa ter múltipla escolha na hora de consumir. Nessa perspectiva temos o surgimento de teatros, salões de beleza, agencias de turismo, fast foods, teatros, frutarias, etc.
Considerações finais:
O ritmo imposto pelo comércio, que foi intensificado após a revolução industrial e a globalização e suas transformações espaciais atingem não só a mancha urbana mais também o cotidiano da sociedade.
Desse modo o tempo do ser humano começa a se limitar e se reduzir ao mesmo tempo em que o comércio tenta acelerar o ritmo do consumo, pois hoje entende-se o consumo como uma espécie de lazer esse fato é bem declarado quando entramos na questão do turismo.
Assim o corpo também sofre esses impactos, pois ás vezes por necessitarmos de mais tempo para o compromisso do que para as necessidades fisiológicas acabamos por defasar a nossa saúde, assim adquirindo, por exemplo, doenças como o stress, que pode ocorrer através do acumulo do cansaço.
Enfim, na situação atual esses ritmos e transformações continuam sendo exercidos pela necessidade da reprodução do capital e para o que se considera "desenvolvimento" humano, pois essa reprodução traz consigo a exclusão de parte da sociedade.

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