domingo, 8 de agosto de 2010

Eleições, geopolítica e Colômbia.

 por Gustavo Marichal
As eleições presidenciais brasileiras têm testado os candidatos em relação à política externa brasileira ou, sob a ótica geográfica, quanto ao papel o Estado brasileiro poderia ter, no cenário internacional, de acordo com candidato. Infelizmente, a disputa entre os dois principais candidatos não é capaz de polarizar a discussão sobre o papel do Estado entre aqueles que o pensam como“distribuidor de direitos” e aqueles que o tomam como um sujeito político com ânsia de poder. Fosse assim, muitos eleitores teriam mais clareza sobre as propostas e em quem votar. Deixemos isso, por hora, de lado, para abordar a função do Estado.

Para André Martin, partidário da ideia de que os Estados (especialmente os fortes) tiveram no passado recente um categórico imperativo político de expandir seu território pela colonização, união com outros Estados, ou conquistas de diferentes espécies, há um retorno aos métodos mais “primitivos” de dominação, exemplificados pela ocupação do Afeganistão e do Iraque, ainda que se excetue, nesses casos, a necessidade de criação de colônias.

É neste ponto que parece ser interessante lembrarmos de que durante muito tempo a política brasileira guiou-se pela posição geográfica favorável, próxima do centro dinâmico formado pelo Atlântico Norte, e pela necessidade de reduzir a influência da Argentina na América do Sul, donde a construção de uma rede viária rumo ao centro deste país e, finalmente, rumo aos países do Pacífico, auxiliaria no processo, reforçando o caráter de potência terrestre, ainda que apenas regionalmente, que o Brasil possui.

Um livro dos anos 30, de Mário Travassos, sucesso em sua época, mas que infelizmente não foi mais reeditado, relata uma preocupação em relação à “potência extrarregional”, que se aproveitaria da instabilidade e fragmentação dos vales andinos, sobretudo na Colômbia (país de posição estratégica relevante, pois próximo do Caribe e do Pacífico), para aumentar sua influência no subcontinente. Dessa forma, alertava os brasileiros em relação à penetração yankee, especialmente no “corredor” colombiano, em direção à Amazônia. Mais do que reduzir a influência argentina na região, Travassos esperava neutralizar a presença dos Estados Unidos na América do Sul através da rede variada de transportes, com hidrovias, rodovias e ferrovias integradas. Como consequência dessa expansão rumo a oeste, resolveriam-se os graves problemas sociais, ademais de projetar o Brasil como potência no continente e para além-mar.

Por mais que essas ideias possam ser vistas como sendo antigas, uma vez que teriam mais de 60 anos, não se pode negar o aspecto atual delas. O governo de Álvaro Uribe, findo há pouco, ficou marcado pela difícil relação com seus vizinhos, em especial com a Venezuela, além da proximidade com os Estados Unidos em função do combate ao tráfico de drogas, mas que trouxe como efeito colateral o fortalecimento militar americano na região. A posse de Juan Manuel Santos, novo presidente colombiano, mostrou uma tentativa de buscar diálogos com seus vizinhos, inclusive atendendo a requisição equatoriana de um computador que supostamente pertenceria às FARC. Entretanto, não se pode afirmar que haverá estabilidade na região, nem a curto ou médio prazo, já que Santos era candidato governista e chegou a ser ministro da Defesa de Uribe.

Voltando à questão da eleição brasileira deste ano, algumas coisas parecem carentes de discussão. Por exemplo, o vice de Serra acusou Dilma de se envolver com as FARC colombianas. Independentemente do aspecto ilegítimo da acusação, e levando em consideração o exposto previamente, será que se deve levar a discussão em torno das relações do Brasil com a América do Sul dessa forma? No limite, será que se pode afirmar que os debates públicos “escondem” duas posturas antagônicas, a primeira sendo a daqueles que querem um Brasil protegido dos EUA e, a segunda, daqueles que querem um Brasil protegido pelos EUA?

Por fim, seria possível afirmar que, independente do candidato eleito, a nova política internacional brasileira dará continuidade às ações do atual governo?

quinta-feira, 22 de julho de 2010

O Brasil há sete mil anos

por  Fábio Reynol (Agência Fapesp)

Um novo estudo lança luz sobre um dos maiores mistérios da pré-história brasileira: os sambaquis.

Sempre se considerou que uma das funções principais dos sambaquis estava relacionada a rituais funerários.

Mas estudos recentes sugerem que eles eram também marcadores territoriais, servindo de aviso a forasteiros.

Uma das descobertas recentes mostra que estes povos primitivos, que habitavam o litoral brasileiro do Nordeste ao Sul entre 7 mil e mil anos atrás, eram sedentários, o que exigia um maior grau de organização.

Antes, se supunha que eles eram nômades. Seus membros também eram mais numerosos do que se pensava. Estima-se que havia milhares pela costa brasileira e os grupos interagiam entre eles, como indicam os rituais funerários que eram partilhados por mais pessoas do que caberia em uma única comunidade.

Essa característica levou à hipótese de os sambaquis servirem como marcadores territoriais. O estudo foi coordenado por Paulo Antônio Dantas de Blasis, do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP. Desde 2005, pesquisadores coletam informações de sítios arqueológicos catarinenses sobre as sociedades que construíam os sambaquis, palavra que significa monte de conchas em tupi guarani. Covas rasas eram feitas na areia para depositar os mortos. Os restos de comida eram depositados sobre os corpos que, depois, ficavam sob conchas.

Esses túmulos eram construídos lado a lado, recebiam mais corpos em novas camadas e, por fim, eram agrupados em um único monte. 

O material encontrado pelo estudo evidencia grandes festas funerárias que reuniam várias comunidades sambaquianas.

Os pesquisadores fizeram escavações minuciosas, além de lançar mão de recursos como radares de superfície e instrumentos de datação de objetos com o método de carbono 14 e da luminescência oticamente
estimulada.

Uma das principais conquistas da pesquisa, segundo Blasis, foi a realização de mais de cem datações, o que permitiu detalhar o desenvolvimento destas sociedades e a construção de uma cronologia. A equipe escolheu Santa Catarina por ser o local onde se encontram os maiores sambaquis remanescentes.

- Havia sambaquis de cerca de 70 metros de altura. A maioria foi destruída, lamenta Paulo Blasis. A cal extraída dos sambaquis serviu de matéria-prima para a construção civil entre os séculos 17 e 19.

Entre as hipóteses para o desaparecimento destas sociedades está a miscigenação com povos de outros costumes. Um mistério que eles pretendem decifrar.

Sobre as enchentes no nordeste

por Redação Terra

As chuvas no Norte e no Nordeste e a seca no Sul, fenômenos que deixaram centenas de municípios brasileiros em estado de emergência nos últimos dias, podem inspirar questões de vestibular. Para Claudio Terezo, autor do livro Novo Dicionário de Geografia e professor da Escola São Paulo da Cruz, em Osasco, esses acontecimentos recentes podem aparecer relacionados a questões sobre os diferentes tipos de clima no País ou envolvendo assuntos históricos, por exemplo, sobre a seca no Nordeste.
 
"A seca no Nordeste não existe somente na história recente. A região convive com essas condições há muito tempo. Sua vegetação predominante, a caatinga, está adaptada a baixa precipitação anual (menos de 500 mm) e a chuvas irregulares. O sertanejo sabe que não se deve combater a seca e sim conviver com ela", afirma.
 
Segundo o geógrafo, alterações no clima local podem ocorrer em determinados períodos e não existe uma previsão para controlar a ação das intempéries. "O que pode e deveria ser feito é minimizar os efeitos sofridos. No caso das fortes chuvas que castigam o Nordeste, uma medida seria a não-ocupação de áreas de várzea (chamado também de segundo leito). Se tal ocupação não ocorresse, e normalmente ocorrem por motivos envolvendo problemas sociais, o regime de chuvas acima do normal causaria menos transtornos para a população. O que deve ficar claro é que o rio não invade a cidade e sim a cidade invade o rio", analisa.
 
Sobre a seca na região Sul, Terezo aponta como um dos principais fatores o mal uso da terra, sendo agravado por ações antrópicas (ação do homem) com grandes extensões de terra sendo utilizados pela agricultura intensiva e criação de animais. "Existe no Rio Grande do Sul um grande e grave problema com a desertificação de enormes áreas e, neste caso, o processo de degradação é praticamente irreversível. É importante lembrar que este fenômeno não atinge o Sul por igual. Se hoje essa região enfrenta problemas com seca, há pouco tempo Santa Catarina enfrentou graves problemas com chuvas", ressalta.
 
As questões envolvendo aspectos climáticos do Brasil podem ser apresentadas em forma de mapas ou gráficos, para análise do aluno. É fundamental saber os tipos de clima do país: "Na Região Norte e parte da Centro-Oeste, aparecem os climas equatorial úmido e equatorial subúmido. O restante da Região Centro-Oeste, o Nordeste e o Sudeste constituem o domínio do clima tropical, que apresentam variações conforme a atuação dos diversos sistema atmosféricos e dos fatores geográficos. O trópico de capricórnio, linha imaginária que marca o limite meridional da declinação anual do sol, sinaliza o inicio da área de clima subtropical. Atinge principalmente os Estados da Região Sul", ensina o professor.

Tsunami no nordeste brasileiro?

Risco para o Brasil é mínimo, mas existe.
Onda gigante devastaria cidades costeiras da Paraíba, invadindo lugares com até 10 km de distância do litoral



Os autores da idéia são os geofísicos Steven Ward (Universidade da Califórnia em Santa Cruz) e Simon Day (University College de Londres).

Eles publicaram em 2001 no periódico "Geophysical Research Letters" uma simulação mostrando o que aconteceria se entrasse em colapso uma parte do vulcão Cumbre Vieja, no arquipélago das Canárias, a menos de 200 km da costa noroeste da África.

Uma avalanche de 500 km3 de terreno dentro do oceano elevaria a água cerca de 900 m, concluíram os computadores de Ward e Day.

A oscilação se propagaria em ondas sucessivas, cada vez menores, por todo o Atlântico. Fora as ilhas, o primeiro estrago seria sentido uma hora depois na costa africana, com tsunamis de 50-100 m.

No que toca ao Brasil, o estrago ocorreria seis horas depois do colapso do vulcão. Iria de Fernando de Noronha e  da Paraíba  até o Amapá. Ondas de 4 m a 18 m se abateriam sobre capitais como Fortaleza, Natal, João Pessoa e São Luís.

Vários pesquisadores brasileiros conheciam a pesquisa de Ward e Day e a mencionaram logo após a tragédia na Ásia. Um dos primeiros foi o físico Celso Pinto de Melo, da Universidade Federal de Pernambuco, que escreveu um artigo para o informativo "Jornal da Ciência".

Melo afirmava no texto que as probabilidades de um evento desses seriam "minúsculas", mas que, na escala geológica de tempo (milhões de anos), até as coisas mais improváveis acabam acontecendo.

Lembrou que a vila de São Vicente, no litoral paulista, foi assolada em 1542, pouco após sua fundação, por ondas que se supõe tenham alcançado 8 m de altura e avançado 150 m terra adentro.

Um dos poucos cientistas interessados em tsunamis no Brasil é o geofísico peruano Jesús Berrocal, 66, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP.

Ele está preparando para as usinas nucleares de Angra dos Reis (RJ) um estudo sobre o risco de tsunamis na costa leste do Brasil e agora foi convidado a apressá-lo.

Além disso, vai participar em Portugal de um evento em memória dos 250 anos do terremoto de 1755 em Lisboa, em que a maioria das mortes teria sido causada pela onda gigante que se seguiu -o único grande exemplo de tsunami no Atlântico.

Segundo Berrocal, o risco de uma tsunami no Brasil "é muito pequeno, mas não é zero".

O fato é que os tsunamis são muito raros no Atlântico, pois 80% delas ocorrem no Pacífico. Os dados indicam que ondas acima de 7,5 m ocorrem a intervalos médios de 15 anos, segundo informou o sítio news@nature.com.

Segundo o Centro Benfield de Pesquisa de Riscos de Londres, ondas de 10 m ou mais ocorrem só a cada mil anos no Atlântico Norte, no Caribe e no Índico (onde ocorreu a tragédia).

O tempo cai para 250 anos no caso do Alasca e da costa pacífica da América do Sul, e 200 anos, no do Havaí.

O maior tsunami de que se tem notícia também atingiu o Brasil, com ondas de 20 metros de altura arrasando o litoral do Nordeste. Felizmente não havia nenhum ser humano por lá: a tragédia ocorreu há 65 milhões de anos, no final da era dos dinossauros. Sua única memória está guardada em um paredão de calcário no litoral de Pernambuco, que seu descobridor quer ver preservado como monumento geológico nacional.

O megatsunami foi um dos efeitos imediatos da queda do asteróide que eliminou os dinossauros e mais metade da vida no planeta, encerrando a chamada Era Mesozóica e o reinado dos grandes répteis sobre a Terra.

No Brasil ele até que foi suave. Mas, nas imediações do local do impacto, a península de Yucatán, no México, formaram-se ondas de até 1 quilômetro de altura, que destruíram completamente o Haiti e partes do litoral mexicano e norte-americano.

O cataclismo foi tão grave –estima-se que o impacto tenha liberado, instantaneamente, uma energia equivalente a 10 mil vezes a explosão de todo o arsenal nuclear do planeta– que mudou a geologia do continente. Os escombros do maremoto foram preservados nas rochas da região afetada, o que tornou possível aos cientistas estabelecer o local da queda, a cratera de Chicxulub.

Maria Farinha

As primeiras evidências do tsunami no Brasil foram encontradas pelo geólogo Gilberto Athayde Albertão, da Petrobras. Estudando as rochas calcárias da chamada formação Maria Farinha, no litoral de Pernambuco e Paraíba, o cientista descobriu uma série de anomalias ligadas ao impacto que extinguiu os dinossauros e à onda monstruosa provocada por ele.

Trata-se do único local em toda a América do Sul onde foi encontrado um registro geológico da chamada fronteira K-T (Cretáceo-Terciário), o limite entre as eras marcado pelo choque do asteróide. Entender esse limite é fundamental para a compreensão de como evoluiu a vida na Terra, pois ele encerra uma das maiores extinções em massa da história.

As evidências da fronteira K-T têm sido encontradas em lugares tão diferentes quanto a Itália, a Dinamarca e a Nova Zelândia. Elas consistem principalmente em microesférulas (grãos de vidro microscópicos produzidos pelo calor do impacto e lançados na atmosfera), no chamado quartzo de impacto (cristais também transformados pelo choque) e em níveis anormais de irídio, um elemento químico raro trazido à Terra por meteoritos.

Tais pistas nunca haviam sido localizadas na África ou na América do Sul, o que levou alguns céticos a duvidar da hipótese da queda de asteróide como causadora da extinção dos dinossauros.

No meio dos anos 90, Albertão, então aluno de mestrado na Universidade Federal de Ouro Preto, se lançou à busca. “Achei que fosse estar procurando uma agulha no palheiro”, recorda-se. “Tinha todas as bacias sedimentares do país para procurar.”

Maremoto

O pesquisador foi levado a Pernambuco após o levantamento de todas as rochas suspeitas de abrigar a fronteira K-T na base de dados da Petrobras. Foi parar na pedreira Poty, uma mina de calcário a 2 quilômetros do mar no município de Paulista, perto de Recife.

O local já havia sido estudado por paleontólogos (especialistas em fósseis) da Universidade Federal de Pernambuco. E havia coisas estranhas ali: fósseis de foraminíferos, animais marinhos microscópicos cujas carapaças compõem a rocha calcária, eram substituídos por outras espécies de repente ao longo do paredão rochoso.

Uma análise química realizada nos EUA confirmou que, em um certo ponto da rocha, havia 69 vezes mais irídio do que no restante dela. E as microesférulas de vidro estavam lá.

Mas não foi só: Albertão também encontrou no nível das anomalias fragmentos de rocha e fósseis de vários tamanhos diferentes misturados à rocha, numa maçaroca que dava a impressão de que algum evento catastrófico havia revolvido completamente o fundo do mar –um maremoto.

Em um artigo científico publicado em 1996 no periódico “Sedimentary Geology”, Albertão calculou a altura e a velocidade das ondas capazes de produzir uma perturbação tão grande: 20 metros e 112 km/h. Agora, ele prepara uma descrição mais detalhada do tsunami, a ser publicada até 2007 num livro pela editora holandesa Elsevier.

O cientista tenta desde 2003 transformar o paredão da pedreira Poty num sítio do patrimônio geológico nacional. O comitê do patrimônio já aceitou a proposta. “Mas é preciso anuência da empresa e a sensibilização das autoridades locais para fazer um projeto de preservação ali”, conta.

Os resultados seriam bem parecidos com o que você viu na televisão, nas revistas e na internet desde o dia 26 de dezembro. Milhares de pessoas desabrigadas. Corpos sendo resgatados em alto-mar. Crianças órfãs, plantações destruídas e outra infinidade de mazelas que as catástrofes naturais têm uma habilidade única de provocar.

Mas um tsunami como o da Ásia é quase impossível de acontecer por aqui. Lá, a seqüência de ondas gigantes foi resultado de um terremoto provocado pelo movimento das placas tectônicas Australiana e Eurasiana. As placas tectônicas, encaixadas como num gigantesco quebra-cabeça, formam um manto sobre o magma, a camada do centro da Terra composta por rochas em estado fluido.

Quando uma dessas placas raspa ou se encosta em outra, nós sentimos tremores nos continentes. Se isso ocorre no fundo do mar, a energia liberada forma uma onda, que vai se propagando até atingir terra firme. Foi exatamente o que ocorreu no sul da Ásia. “Já o Brasil, para nossa sorte, está localizado bem no centro de uma placa e, mesmo quando ela se move, provoca apenas abalos de pouca intensidade”, diz o professor de engenharia oceânica da UFRJ Paulo Cesar Rosman.

Acontece que terremotos no fundo do mar não são a única razão para o surgimento de um tsunami. Quedas de meteoros e erupções vulcânicas também podem gerar ondas gigantes.

Nesses casos, a força do tsunami depende do tamanho do material que é arremessado ao mar. Se você acha que escapamos mais uma vez, engana-se. O pesquisador Steven Ward, da Universidade da Califórnia, é autor de um estudo sobre o impacto que uma erupção do vulcão Cumbre Vieja poderia causar nas Américas. O vulcão está localizado na ilha La Palma, no arquipélago das Ilhas Canárias, perto da costa africana.

De acordo com Ward, uma próxima erupção pode fazer parte da ilha deslizar e cair no mar. Essa queda produziria uma energia tão grande que, em poucas horas, ondas gigantescas se formariam e destruiriam várias ilhas do Caribe, alguns estados americanos e o Norte e Nordeste brasileiros. “Ninguém sabe ao certo quando o Cumbre Vieja pode entrar em erupção”, diz o pesquisador americano. “Ele entrou em colapso há 550 mil anos.

Desde então, reconstruiu- se e pode estar voltando novamente ao fim de seu ciclo.” Como o Brasil não tem sistema de alarme de tsunami, moradores e turistas seriam pegos de surpresa, repetindo as cenas trágicas que aconteceram no último ano na Ásia.
( Fonte : Click, PB)

domingo, 27 de junho de 2010

Dialogando com José Goldemberg

por Gustavo Marichal

Numa comunidade do Orkut, me perguntaram sobre a entrevista do José Goldemberg à Época, em que ele afirma que o Brasil quer ter a tecnologia nuclear. Reproduzo abaixo o que respondi.

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William, pergunta interessante. Em minhas aulas, eu cito que o Brasil está se armando, e que isso é bom. Eu honestamente só consigo entender a postura da elite brasileira quando eu lembro que Milton Santos afirmava que as pessoas não querem direitos, querem privilégios. Explico: num mundo em que guerras são feitas por causa do petróleo (Iraque), da água (o atual contexto da relação Israel-Palestina) e do ferro (Afeganistão), o Brasil deveria começar a ser ver como um futuro alvo, mas a elite critica esse protecionismo - lembrando que, em relação às riquezas citadas acima, nós temos o Pré-Sal, os Aquiferos Guarani e Alter do Chão, além do Quadrilátero Ferrífero e de Carajás.

David Harvey, no livro O novo imperialismo, tem todo um capitulo dedicado a debater o papel americano. Ele cita uma reportagem do New York Times, de Michael Ignatieff, que diz que "toda a guerra norte-americana ao terror é um exercício de imperialismo. Isso talvez choque os norte-americanos, que não gostam de conceber seu país como um império. Mas que outro nome podemos dar às legiões norte-americanas de soldados, de agentes secretos e de forças especiais espalhadas pelo globo?". Repare que esse posicionamento repercute positivamente na mídia: o redator do Wall Street Journal, Max Boot, chegou a afirmar que "o Afeganistão e outras terras perturbadas clamam hoje pelo tipo de administração externa esclarecida um dia proporcionada por ingleses autoconfiantes que usavam jodhpurs e capacete". Bem interpretado, o leitor conclui que esses povos estão somente esperando a luminosidade que a administração externa, e somente ela, pode oferecer.

O que me assusta não é ver um redator, editor ou jornalista americano falando esse tipo de besteira pró-invasão. O que me assusta é ver a mídia brasileira comprando esse discurso, e incentivando o enfraquecimento do Brasil. Veja o exemplo a seguir.

No site do JC
Lula justificou os gastos [com a compra de 36 caças Rafale da França] com o argumento de que o Brasil precisa proteger melhor suas riquezas. "Esse país tem 360 milhões de hectares de terra na Amazônia que precisamos preservar. Agora descobrimos uma outra riqueza que é o pré-sal. Sabemos a quantidade de petróleo que temos e desenvolvermos a área de defesa é cuidar do nosso território", justificou Lula, durante coletiva de imprensa ao lado do presidente francês.

"Deve sempre passar pela nossa cabeça a ideia de que o petróleo já foi motivo de muitas guerras, muitos conflitos. Não queremos nem guerra nem conflito. O Brasil vê oportunidade do pré-sal como oportunidade de daqui a 10 ou 15 anos se transformar em grande economia mundial", afirmou.

No site da Veja
Nelson Jobim, que enxergou nos Rafale os caças que a Aeronáutica não quer mas o Brasil merece, por serem os mais caros e menos testados,  promete usar o que sobrar nos cofres públicos para a compra de equipamentos de defesa antiaérea fabricados na França. “O chefe acha importante proteger agora o petróleo do pré-sal que vai jorrar em 2030″, confidenciou um amigo do ministro.  “Se ainda assim estiver mal nas pesquisas, ele vai propor ao presidente a aquisição do Aerolula 2″.

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Repare como em uma reportagem, a informação é passada de forma direta, mas na reportagem da Veja a informação é carregada de ironia, sarcasmo e depreciação. Eu dei esse exemplo para lembrá-lo de que o link que vc nos passou é da Época, que também passa pelos problemas da Veja, embora bem mais sutis. Por exemplo, leia este trecho: "O Brasil se recusa a assinar o protocolo e defende o direito do Irã de ter a energia nuclear – oficialmente apenas para fins pacíficos. Para o físico José Goldemberg, uma autoridade internacional em assuntos de energia, essas são evidências, somadas a outras, de que o Brasil busca a posse de armas nucleares".

Já no final dos anos 70, o acordo nuclear com a Alemanha fez com que pessoas afirmassem que queríamos armas nucleares. De tempos em tempos, esse tipo de assunto ganha força na mídia. O que assusta é como a mídia aborda isso pejorativamente, conforme explicarei nos parágrafos a seguir.

O que faz com que um país seja hegemônico? Não adianta ter uma força econômica apenas, precisa de uma força militar que dê sustentação. Há uma frase que eu sempre digo em sala de aula: todo tipo de comércio é uma forma potencial de fazer guerra. Foi para evitar a guerra que os países europeus ficaram anos discutindo a partilha da África e da Ásia (quando a Alemanha e Itália concluem o processo de unificação nacional, questionam o acordo e esse descontentamento, aliado à necessidades econômicas internas, provoca a Primeira Guerra Mundial). Perceba que há uma necessidade dos países de se organizarem em níveis hierárquicos, sendo que o potencial bélico é o critério de seleção. Pode-se afirmar que as bombas nucleares foram aquilo que os países centrais têm que os colocou no topo. Se algum país quiser ocupar esse lugar no topo, precisa se igualar em força bélica (ou, em outras palavras e no nosso contexto histórico, ter capacidade de gerar bombas nucleares) e criar um novo tipo de arma que ninguém mais tenha. Nessas condições, há o rompimento das relações de poder. Isso foi visto quando Portugal se lança ao mar nas Grandes Navegações, por exemplo, depois de fundar a Escola de Sagres e concentrar as diferentes técnicas e tecnologia que estavam disponíveis na Europa e região do Império Turco-Otomano.

Oras, numa situação hipotética, o que significaria ao Brasil desenvolver uma bomba atômica? Pode me chamar de imediatista, mas eu entendo que significaria a possibilidade de (1) produzir tecnologia de acordo com os interesses do Brasil, (2) não ser atacado por isso e (3) poder dialogar com os países que já estão no topo de igual para igual.

Eu interpreto que Celso Amorim encaminha-se na direção desse meu pensamento, inclusive quando ele afirma que o Irã tem direito de enriquecer urânio para atender às necessidades energéticas do país. Esse modelo energético é o mesmo que é seguido pelo Japão, pela França, pela Inglaterra e pelos próprios EUA.

Há um acordo feito pelo Brasil e Argentina nos anos 80, salvo engano. Esse acordo evita uma corrida armamentista desnecessária, já que os dois países podem vigiar quaisquer instalações no outro território. Por exemplo, se a Argentina suspeitar que temos bombas atômicas, em nome do equilíbrio e da paz da América do Sul, eles podem ter acessos a documentos e instalações que nem a AIEA pode requisitar ou visitar.

Ou nós não temos nada (ainda?), ou nós temos algo e a Argentina nos dá um grande apoio (tipo EUA & Canadá).

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Guarani é oficializado como segunda língua em município do Mato Grosso do Sul

 por Gustavo - recebido por e-mail

O guarani é a segunda língua oficial do município de Tacuru, no Mato Grosso  do Sul. O município é o segundo do país a adotar um idioma indígena como língua oficial, depois da sanção, pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, no dia 24 de maio, do Projeto de lei que oficializa a língua guarani em Tacuru. Com a nova lei, os serviços públicos básicos na área de saúde e as campanhas de prevenção de doenças neste município devem, a partir de agora, prestar informações em guarani e em português.

O primeiro município do Brasil a adotar idioma indígena como língua oficial,  além do português, foi São Gabriel da Cachoeira, localizado no extremo norte do Amazonas. Além do português, São Gabriel tem três línguas indígenas oficiais: o *Nheengatu*, o *Tukano* e o *Baniwa*.

Em Tacuru, pequeno município no cone sul do estado do Mato Grosso do Sul,  próximo ao Paraguai formado por uma população de 9.554 habitantes, segundo estimativa do IBGE de 2009, 30% de seus habitantes são guarani residentes na aldeia de Jaguapiré, situada no município. A maioria dos 3.245 indígenas de Tacuru não é bilíngue, ou seja, fala somente o Guarani o que dificulta o  acesso aos serviços públicos mais essenciais.

Com a nova lei, a Prefeitura de Tacuru se compromete a apoiar e a incentivar  o ensino da língua guarani nas escolas e nos meios de comunicação do município. A lei estabelece também que nenhuma pessoa poderá ser  discriminada em razão da língua oficial falada, devendo ser respeitada e valorizada as variedades da língua guarani, como o *kaiowá*, o *ñandeva* e o *mbya*.

O Ministério Público Federal do Mato Grosso do Sul (MPF-MS) elogiou a  aprovação da medida e argumentou que o Brasil é multiétnico e que o português não pode ser considerado a única língua utilizada no país. O MPF lembrou que o Brasil é signatário do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, que determina que, nos Estados onde haja minorias étnicas ou linguísticas, pessoas pertencentes a esses grupos não poderão ser privadas de usar sua própria língua.

A Convenção nº 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) sobre os  Povos Indígenas e  Tribais<http://www.oitbrasil.org.br/info/downloadfile.php?fileId=131> * *determina, dentre outras coisas, que deverão ser adotadas medidas para garantir que os membros das minorias étnicas possam compreender e se fazer compreender em procedimentos legais, facilitando para eles, se for  necessário, intérpretes ou outros meios eficazes.

Em Paranhos, também no Mato Grosso do Sul, tramita um projeto de lei semelhante ao aprovado em  Tacuru, que propõe a oficialização do idioma guarani como segunda língua do município. Em Paranhos  existem 4.250  indígenas guarani. Em todo o estado do Mato Grosso do Sul são 68.824 indígenas, divididos em 75 aldeias.

Para o secretário da Identidade e Diversidade Cultural/MinC, Américo Córdula, a oficialização da língua guarani em mais um município brasileiro vai de encontro à política cultural desenvolvida pelo Ministério da Cultura de proteção e proteção dos saberes tradicionais dos povos indígenas.

No mês de fevereiro (de 2 a 5), a SID/MinC realizou, juntamente com a Itaipu  Binacional, o *Encontro dos Povos Guarani da América do Sul - Aty Guasu Ñande Reko Resakã Yvy Rupa *que reuniu cerca de 800 índios da etnia do Brasil, Bolívia, Paraguai e Argentina, em Diamante DOeste, no Paraná, para  discutir formas de fortalecer o intercâmbio cultural entre as comunidades dos quatro países.

Temos no Brasil uma comunidade de aproximadamente um milhão de indígenas, formada por 270 povos diferentes, falantes de mais de 180 línguas, informa Córdula. Segundo ele, a população indígena brasileira é detentora de uma grande diversidade cultural, que deve ser protegida por seu caráter formador da nacionalidade brasileira. Com esse objetivo, a SID/MinC já realizou dois prêmios culturais (2006 e 2007) voltados para as comunidades tradicionais indígenas. Foram investidos R$ 3,6 milhões para a premiação de 182 projetos em todo o Brasil.

Este ano, no mês de março, foi criado o primeiro Colegiado de Culturas Indígenas, formado por 15 titulares e 15 suplentes representantes do segmento. No último dia 1º, foi eleito o conselheiro do Colegiado para o  Plenário do Conselho Nacional de Políticas Culturais (CNPC).

Maria das Dores do Prado, da etnia Pankararu, foi escolhida para defender,  junto ao CNPC, as políticas públicas voltadas para a valorização da cultura de todas as comunidades indígenas brasileiras. Um das reivindicações defendidas pelo segmento durante a Conferência Nacional de Cultural,  realizada em março, quando se deu a eleição do Colegiado, é a manutenção de todas as línguas nativas.

domingo, 16 de maio de 2010

A erupção na Islândia poderá durar vários meses”, prevê especialista


16 maio , 2010
por Hervé Morin

O vulcão islandês continua sendo uma ameaça persistente para o transporte aéreo europeu. A volta de sua atividade perturbou diversos aeroportos nos últimos dias. Para analisar melhor o comportamento do Eyjafjallajökull, duas equipes de vulcanólogos europeus foram no início de maio à Islândia. Patrick Allard, do Instituto de Física Global de Paris (CNRS-CEA), faz parte delas, e conseguiu chegar até o cume do vulcão.

Le Monde: Como explicar os caprichos do Eyjafjallajökull?
Patrick Allard: Eles se devem, acima de tudo, às mudanças de direção dos ventos. A erupção continua. Ela começou no dia 20 de março pela emissão tranquila de um magma basáltico fluido (47% de silício) à beira da geleira com 200 metros de espessura que cobre o vulcão. A partir do dia 14 de abril, foi um magma diferente, mais rico em silício (57%), e portanto mais viscoso, chamado de andesita, que irrompeu de maneira explosiva através da geleira, por meio do duto central do vulcão.

A fragmentação violenta desse magma por meio dos gases que ele contém, somada à vaporização inicial da água vinda do derretimento da geleira, gerou grandes colunas de cinzas. Enquanto esse regime eruptivo continuar, o céu europeu permanecerá sob a ameaça das nuvens vulcânicas. Nos últimos dias, observou-se uma produção crescente de cinzas, bem como de sua altura, em coincidência (fortuita ou não) com uma crise sísmica profunda (20-15 km) que anuncia uma nova realimentação do vulcão em magma fresco.

Le Monde: Isso significa que não é mais preciso misturar magma e gelo para produzir cinzas?
Allard: Exato. Nesse momento estamos lidando com uma pura fragmentação explosiva do magma, sem interação com o gelo (as cinzas emitidas são “secas”). Nós também pudemos verificar isso quando chegamos à beira da cratera, no sábado (8), para ali efetuar medições da composição dos gases magmáticos por meio de espectroscopia infravermelha. No entanto, as interações entre magma e gelo continuam sendo muito prováveis, pois ainda há gelo dentro da cratera de 300 metros de diâmetro formada pela erupção, e todo o entorno da geleira está fraturado, com gigantescas fissuras abertas.

Le Monde: Como foi sua exploração da cratera?
Allard: Foi um momento muito intenso. Nós estávamos a somente 800 metros das bocas eruptivas e a coluna subia a três quilômetros. Felizmente, o tempo estava muito limpo, o que nos permitiu acompanhar a trajetória dos blocos de lava, alguns com metros de altura, que eram ejetados até um quilômetro de altura. Em quase quarenta anos de experiência com vulcões ativos, foi uma das atividades mais impressionantes que pude ver de tão perto.

Le Monde: Os vulcanólogos têm apólices de seguro próprias?
Allard: Não. Subir em vulcões faz parte de nossa profissão e implica riscos que, graças à experiência, podemos administrar de forma calculada. Ainda que seja impressionante de perto, a erupção que está em curso continua sendo de amplitude média. O que nos surpreende é o fato de ela perdurar em um regime explosivo constante, sendo que poderíamos esperar que ela diminuísse progressivamente à medida que o magma fosse perdendo seus gases.

Le Monde: O sr. tem uma visão clara do que se passa no subsolo?
Allard: Não. Os tremores registrados antes e durante a erupção definem os dutos de alimentação quase verticais vindos de 20 a 25 quilômetros de profundidade, mas não dispomos de imagens precisas do reservatório magmático do vulcão. Para isso, seria preciso uma espécie de ecografia do sistema, utilizando uma rede sísmica muito densa. As equipes islandesas ainda não tiveram condições de fazê-la, apesar de administrarem muito bem seu vulcão.

Le Monde: O sr. tem ideia de qual será a duração da erupção?
Allard: Difícil de responder! Isso dependerá de sua alimentação em magma e em gás. O monitoramento geofísico detectou as injeções de magma antes e durante a erupção, bem como as deformações associadas a essas injeções. O regime atual sugere que a erupção poderá durar de várias semanas a vários meses. A erupção anterior do Eyjafjallajökull durou mais de um ano, de dezembro de 1821 a janeiro de 1823.

Le Monde: Na época, o vulcão Katla, que é bem próximo e maior, também despertou…
Allard: De fato. Mas por enquanto, não há nenhum sinal anormal registrado sob o Katla.

Tradução: Lana Lim

Fonte: Le Monde

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Sobre Amazônia

por Gustavo
Este artigo chegou ao meu e-mail via grupo de discussão e é do Lúcio Flávio Pinto, paraense que já ganhou alguns prêmios internacionais. Por se tratar de um artigo jornalístico, falta-lhe aquelas referências que o mundo acadêmico requer, na maioria dos casos, e eu honestamente senti falta delas, já que ele me deu vontade de me aprofundar nesses estudos. Apesar disso, vale a pena ler o artigo que colabora para entender a relação Brasil - Amazônia, do ponto de vista histórico-político-econômico.



O crime legal

A história contemporânea da Amazônia segue dois marcos. Sem considerá-los, ninguém poderá entender o que acontece na região. O primeiro deles, por ordem cronológica, tem dois desdobramentos. Começou na segunda metade da década de 50 do século passado, quando pela primeira vez a Amazônia foi integrada por terra ao restante do país, inicialmente através das rodovias Belém-Brasília e Brasília-Acre (seguidas de outras estradas de porte semelhante, como a Transamazônica) .
Esse marco foi arrematado duas décadas depois, quando os militares, no poder pelo período mais longo de todas as suas intervenções na vida política brasileira, decidiram acelerar a ocupação desencadeada pelas estradas. O lema era categórico: “integrar para não entregar”.
Uma longa tradição de raciocínio geopolítico muito forte, sobretudo na caserna, garantia que a Amazônia era objeto, desde o início da presença européia, de uma cobiça internacional profunda, persistente e ameaçadora. Ela só não se consumara porque o colonizador português mostrara sua valentia (além de sagacidade) na defesa (e expansão) das fronteiras amazônicas. Esse sentimento foi repassado ao nativo.
Mas essas qualidades já não eram suficientes para assegurar a soberania nacional sobre a mais extensa e rica fronteira do país. Os “espaços vazios” constituíam o ponto frágil da vigilância e da defesa da integridade territorial. Era preciso que cidadãos nacionais ocupassem esses espaços, atraídos pelas promessas de enriquecimento e intensamente apoiados pelo governo (inclusive através de colaboração financeira do erário). A Amazônia precisava deixar sua condição de reserva e passar a produzir.
Essa contingência se impôs quando de outro marco: a primeira crise do petróleo, de 1973. O mundo se redefiniu para se adaptar ao novo custo da energia. Em nenhum lugar do mundo há mais energia contida na natureza do que na Amazônia. Em seus rios caudalosos, no seu subsolo, nas suas árvores, nas suas chuvas, no seu sol. Um dos lugares-chave da nova redivisão internacional da Amazônia passou a ser a Amazônia.
Ela tem duas das maiores fábricas de alumínio do planeta (e o alumínio é o bem industrial mais eletrointensivo que existe), a maior fábrica de alumina, algumas das principais plantas minerais, a quarta maior hidrelétrica da Terra. Quase todos esses bens e insumos são remetidos para o exterior. As empresas que os produzem contam com participação acionária de algumas das principais multinacionais. A Amazônia, internacionalizada desde a sua origem (foram os espanhóis que lhe deram esse nome) e nacionalizada só recentemente, já sob o Império, nunca foi tão internacionalizada quanto agora. E nunca tão integrada à economia nacional. Ao contrário do que pensavam os militares no poder, uma coisa levou à outra, ao invés de impedi-lo.
Os estrangeiros parecem ter aprendido que é mais cômodo e mais rentável explorar as riquezas da Amazônia sob um governo local do que abrindo filial colonial da metrópole no além-mar. Os relatos sobre tentativas de intervenção estrangeira direta não resistem a um exame mais apurado.
Diz a lenda (revestida de verdade histórica nos manuais de ocasião, muito caros aos nacionalistas) que, no século XIX, a poderosa Inglaterra só não anexou a Amazônia porque Eduardo Angelim, o principal líder da Cabanagem, a maior insurreição popular da história brasileira (irrompida em 1835), rejeitou as propostas insinuantes de autonomia de um representante britânico, colocando-o para correr.
Documentos oficiais ingleses, aos quais só recentemente se teve acesso, revelaram que o próprio governo brasileiro, na época chefiado pelo regente paulista Diogo Feijó (em nome do imperador Pedro II, ainda menor), autorizou a Inglaterra a invadir secretamente a convulsionada província para reprimir os rebeldes. A tarefa estava além das possibilidades das tropas brasileiras, empenhadas em combater outra grave insurreição, a dos Farrapos, no outro extremo do país, o Rio Grande do Sul.
Navios da armada inglesa (a mais poderosa da época) estiveram em Belém e seu comandante concluiu que dominaria tudo com apenas 150 fuzileiros navais. Se quisesse fazer da Amazônia uma nova Índia, era o momento. Feitos os cálculos, Sua Majestade verificou que lucraria mais mantendo a nacionalidade brasileira. Ao invés de tropa, mandou seu banco e financiou o início da exploração da borracha. O Banco do Brasil levou quase um século para se instalar na região, depois de criado.
O ministro das relações exteriores da Inglaterra, Lorde Palmerston, instruído pelo embaixador no Rio de Janeiro, não aceitou a proposta de Feijó para a invasão secreta, a repressão e a pacificação da província distante, que seria devolvida então ao governo imperial. Apresentou várias justificativas relacionadas à legalidade e à autodeterminação dos povos, mas, na verdade, tinha em mente números.
A Inglaterra ganhou muito dinheiro comprando e financiando a borracha amazônica. E, depois, quando constatada a inviabilidade de aumentá-la na escala exigida, partiu para o sucedâneo asiático, a partir de sementes coletadas no Pará. Tudo dentro da lei. Sem contrabando, ao contrário do que proclama outra lenda compensatória.
A “pacificação” da província rebelde, que o governo imperial acabou por assumir, foi mais sangrenta do que os motins políticos. Depois de cinco anos de conflagração, 20% da população da Amazônia morrera, com maior ênfase na fase da “pacificação”. Se fosse hoje, seriam mais de dois milhões de mortos. Há algo semelhante na história do Brasil? Não é tão frequente nem na belicosa história da humanidade.
Histórias de pé quebrado sobre a “cobiça internacional” da literatura geopolítica têm servido de habeas corpus ao saque dos recursos amazônicos, inclusive humanos, praticado pelos nacionais. Possibilitam até a pilhagem internacional, sem chamar a atenção da opinião pública, condicionada a achar que internacionalização é sinônimo de invasão armada.
Foi assim que o governo federal conseguiu criar o Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia). Dizia-se que os Estados Unidos aproveitariam uma manobra militar conjunta na vizinha (ex-inglesa) Guiana (o Brasil foi convidado e não aceitou), para ensaiar a invasão da Amazônia. Usaria o conceito de “soberania limitada”, ao qual a Amazônia estaria sujeita por ser patrimônio da humanidade.
Assim, o Sivam, mesmo custando dois bilhões de dólares, não passou por concorrência. Era mais uma ação de emergência pela defesa da ameaçada segurança nacional na Amazônia, alvo da insaciável cobiça internacional. A dispensa de licitação criou um dos escândalos que abalou a administração do presidente Fernando Henrique Cardoso.
De lá para cá as exportações amazônicas cresceram mais de quatro vezes, a participação acionária de empresas estrangeiras se expandiu e os vínculos ao mercado mundial foram reforçados. Há menos “espaços vazios”, não só porque a população cresceu a uma taxa superior à da média nacional, como porque os pioneiros que abrem essas frentes foram responsáveis pelo maior desmatamento de toda história da humanidade: em meio século puseram abaixo área equivalente a três vezes o tamanho do Estado de São Paulo, que concentra um terço da riqueza nacional.
Ou seja: integrada, para não ser entregue aos piratas estrangeiros (ou aos “marines” americanos), a Amazônia paga aos seus protetores um preço. O de deixar de ser Amazônia. É assim que se torna Brasil, finalmente.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Chuvas nos anos 60

por Gustavo
































































Acima, algumas fotos tiradas em tempestades dos anos 60 em São Paulo.
Interessante notarmos que já naquela época havia a formação de enchentes e, para variar, o paulistano perdia muito de seu tempo só esperando a água baixar..

Abaixo, algumas canções (quase tenho certeza absoluta de que são do Adoniran Barbosa) sobre as chuvas.

Abrigo de Vagabundos

Adoniram Barbosa


Eu, arranjei o meu dinheiro,
Trabalhando o ano inteiro,
Numa cerâmica,
Fabricando pote,
E lá no alto da Moóca,
Eu comprei um lindo lote,
Dez de frente, dez de fundos,
Construí minha maloca,
Me disseram que sem planta, não se pode construir,
Mas quem trabalha, tudo pode conseguir,
João Saracura,
Que é Fiscal da Prefeitura,
Foi um grande amigo,
Arranjou todo pra mim !

Por onde andará ?
O Jóca e Mato Grosso,
Aqueles dois amigos,
Que não quis me acompanhar,
Andarão jogados,
Na Av. São João ?
Ou vendo o sol quadrado,
Na detenção ?

Minha maloca,
A mais linda que eu já vi !
Hoje está legalizada,
Ninguém pode demolir !

Minha maloca,
A mais linda desse mundo,
Ofereço aos vagabundos,
Que não tem onde dormir !!!

Por onde andará ?
O Jóca e Mato Grosso,
Aqueles dois amigos,
Que não quis me acompanhar,
Andarão jogados,
Na Av. São João ?
Ou vendo o sol quadrado,
Na detenção ?

Minha maloca,
A mais linda que eu já vi !
Hoje está legalizada,
Ninguém pode demolir !

Minha maloca,
A mais linda desse mundo,
Ofereço aos vagabundos,
Que não tem onde dormir !


mais uma...


Despejo Na Favela
(ADONIRAN BARBOSA)
Quando o oficial de justiça chegou
La na favela
E contra seu desejo / entregou pra seu Narciso um aviso pra uma ordem de despejo
Assinada seu doutor , assim dizia a petição "dentro de dez dias quero a favela vazia /e os
barracos todos no chão"
É uma ordem superior ,
Ôôôôôôôô Ô meu senhor, é uma ordem superior
Não tem nada não seu doutor, não tem nada não
Amanhã mesmo vou deixar meu barracão
Não tem nada não seu doutor, vou sair daqui pra não ouvir o ronco do trator
Pra mim não tem problema em qualquer canto me arrumo de qualquer jeito me ajeito
Depois, o que eu tenho é tão pouco, minha mudança é tão pequena que cabe no bolso de trás
Mas essa gente ai hein como é que faz????
ÔÔÔÔÔÔÔÔÔÔÔ meu senhor mas essa gente aí hein como é que faz????


e a última...


Agüenta a Mão, João
Adoniran Barbosa
Composição: Adoniran Barbosa / Hervé Clodovil


Não reclama
Contra o temporal
Que derrubou teu barracão
Não reclama
Guenta a mão joão
Com o Cibide
Aconteceu coisa pior
Não reclama
Pois a chuva
Só levou a tua cama
Não reclama
Guenta a mão joão
Que amanhã tu levanta
Um barracão muito melhor

C'o Cibide coitado
Não te contei?
Tinha muita coisa
A mais no barracão
A enchurrada levou seus
Tamanco e o lampião
E um par de meia que era
De muita estimação
O Cibide tá que tá dando
Dó na gente
Anda por aí
Com uma mão atrás
E outra na frente


OBS: Adoniran morreu em 1982

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Dia do Índio..

Aquífero descoberto no Norte seria maior que Guarani

pel'O Estado de S. Paulo

Pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA) divulgarão  oficialmente na semana que vem a descoberta do que afirmam ser o maior aquífero do mundo. A imensa reserva subterrânea sob os Estados do Pará, Amazonas e Amapá tem o nome provisório de Aquífero Alter do Chão, em referência à cidade de mesmo nome, centro turístico perto de Santarém.

Temos estudos pontuais e vários dados coletados ao longo de mais de 30 anos que nos permitem dizer que se trata da maior reserva de água doce subterrânea do planeta. É maior em espessura que o Aquífero Guarani, considerado pela comunidade científica o maior do mundo, assegura Milton Matta, geólogo da UFPA. A capacidade do aquífero não foi estabelecida. Os dados preliminares indicam que ele possui uma área de 437,5 mil quilômetros quadrados e espessura média de 545 metros. menor em extensão, mas maior em espessura do que o Guarani.

Matta cita a porosidade da rocha em que a água está depositada como um dos indícios do potencial do reservatório. A rocha é muito porosa, o que indica grande capacidade de reserva de água. Além do mais, a permeabilidade (a conexão entre os poros da rocha) também é grande.

Segundo ele, apesar de as dimensões da reserva não terem sido  mapeadas, sai do aquífero a água que abastece 100% de Santarém e quase toda Manaus. A vazão dos poços perfurados na região do aquífero é outro indício de que sua reserva é muito grande, afirma Matta.

Para o geólogo Ricardo Hirata, do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo, a comparação com o Guarani é interessante como referência, mas complicada. O Guarani é um aquífero extremamente importante para o Brasil e para a América Latina, mas não é o maior do mundo. Há pelo menos um aquífero, na Austrália, que é maior que o  Guarani, contesta.

Para Hirata, também se deve levar em conta a localização das reservas ao se comparar as duas. Pela alta demanda e pela baixa disponibilidade de água que temos nas Regiões Sudeste e Sul, podemos dizer que o Guarani é estrategicamente muito mais importante do que um aquífero no Norte, mesmo que imenso.

Matta afirma categoricamente que o Aquífero Alter do Chão pode abastecer toda a população do mundo por centenas de anos. Afirma também que o acesso à água da reserva nortista é fácil. Aqui, o sujeito encontra água a uma profundidade de 300, 350 metros. Para chegar até a reserva do Guarani, às vezes é preciso cavar mais de mil metros.

O próximo passo do pesquisador é conseguir financiamento para um estudo sistemático da reserva subterrânea. Matta já concluiu um projeto para pedir recursos ao Banco Mundial.

domingo, 11 de abril de 2010

Mar Mediterrâneo "encheu-se" em menos de dois anos com a maior inundação de sempre


O Mar Mediterrâneo “encheu-se” com uma descarga de água que chegou a ser mil vezes superior ao actual rio Amazonas no espaço de alguns meses a dois anos e não de dez a dez mil anos, como se pensava até agora.

Esta é uma das principais conclusões de um estudo do Conselho Superior de Investigações Científicas (CSIC) de Espanha, publicado na revista "Nature", em que se recorda que o Mar Mediterrâneo quase chegou a secar há seis milhões de anos, ao ficar isolado dos oceanos durante um período de tempo prolongado, devido ao actual levantamento tectónico do Estreito de Gibraltar.

Quando as águas do Atlântico encontraram de novo um caminho através deste estreito, encheram o Mediterrâneo com a maior e a mais brusca inundação que a Terra jamais conheceu, referem os cientistas. Esta enorme descarga de água, iniciada provavelmente pelo abatimento do istmo que liga a África à Europa e o desnível de ambos os mares (de 1500 metros), inundou o Mediterrâneo a um ritmo de até dez metros diários de subida do nível do mar.

Daniel García-Castellanos, investigador do CSIC acrescentou que "a inundação que pôs fim à dessecação do Mediterrâneo foi extremamente curta e, mais do que assemelhar-se a uma enorme cascata, deve ter consistido numa descida mais ou menos gradual desde o Atlântico até ao centro do Mar de Alborán".

Erosão de 200 quilómetros não foi causada por um rio

O estudo revelou que este episódio provocou no fundo marinho uma erosão de 200 quilómetros de comprimento e vários quilómetros de largura. Nos anos 90, os engenheiros do túnel que devia unir a Europa e África estudaram o subsolo do Estreito de Gibraltar e depararam-se com este rego de várias centenas de metros de profundidade, repletos de sedimentos pouco consolidados.

Na altura pensaram que esta enorme erosão tinha sido causada por algum rio de grande caudal durante a época de seca extrema do Mediterrâneo. Neste estudo, os investigadores espanhóis demonstraram que a erosão não foi produzida por um rio, mas sim por um enorme fluxo de água procedente do Atlântico.

Os investigadores frisaram ainda que “uma mudança tão grande e abrupta na paisagem terrestre” como a que se deduziu “poderá ter tido um impacto notável no clima daquele período”.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Enquanto isso, em 1859 e 1863..

Mas como encontrar essa dedicação e essas habilitações, que se requer nos professores, quando elles são tão mesquinhamente retribuídos?
Discurso com que o illustrissimo e excellentissimo senhor senador José Joaquim Fernandes Torres, presidente da provincia de S. Paulo, abrio a Assembléa Legislativa Provincial no anno de 1859. S. Paulo, Typ. Imparcial de Joaquim Roberto de Azevedo Marques, 1859. 
Achei aqui.


________________________________________
As nossas escholas publicas, regidas por homens que não aprenderam o officio de Mestres, que não se instruíram pela mór parte á fundo nas materias á ensinar, e que vivem descontentes de sua sóte por não terem sufficientes meios de subsistencia, por não contarem seguro o futuro de suas familias, e por não serem acoroçoados no trabalho pela estima geral da população., as nossas escholas publicas despojadas de casas, onde se alojem, dos utensis essenciaes ao seu exercicio, do regimen interno por onde se guiem, e de inspecção acurada que as active (..)
O mesmo mal estar das escholas públicas se observa nas privadas, e illude-se quem imputa a existencia d'estas aos defeitos d'aquellas. Pessoas ha que não admittem o contacto, que se dá nas instituições publicas, de seus filhos com os de todas as classes, e essa é a causa mais influente da manutenção do ensino particular em competencia com o da Provincia, aliás gratuito.

Vicente Pires da Motta. "Documentos que acompanham o relatorio que o ill.mo e ex.mo s.r conselheiro doutor Vicente Pires da Motta apresentou á Assembléa Legislativa Provincial no anno de 1863. S. Paulo, Typ. Imparcial de Joaquim Roberto de Azevedo Marques, 1863."

Achei aqui.

Parabéns, PSDB, pelos teus (praticamente) 150 anos consecutivos no governo do estado de São Paulo.

sábado, 27 de março de 2010

Copa deixará "elefantes brancos", diz pesquisador

Isabela Vieira, AGÊNCIA BRASIL

Rio de Janeiro - O Brasil enfrentará desafios estruturais para a realização da Copa do Mundo de 2014. De acordo com o geógrafo da Universidade Federal Fluminense (UFF), Christopher Gaffney, o país caminha para a construção de elefantes brancos e demonstra falta de planejamento e de transparência nos gastos públicos. As informações constam de estudo apresentado hoje (23), durante o Fórum Social Urbano (FSU).

Segundo a pesquisa, não há controle nos gastos com a construção ou a recuperação de estádios das 12 cidades que receberão as competições. Ainda de acordo com o pesquisador, como o governo não conseguiu apoio da iniciativa privada para construção das arenas, que devem ter capacidade para 50 mil pessoas, fará aportes por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que destina R$ 4,8 bilhões para Copa do Mundo, sendo R$ 400 mil para cada município.
Gaffney disse também que a aplicação de dinheiro não conta com mecanismos de acompanhamento social e os orçamentos para reforma de três arenas foram extrapolados em menos de nove meses. Como exemplo, a pesquisa cita o Maracanã, no Rio, cujo orçamento inicial passou de R$ 500 milhões para R$ 600 milhões de 2009 para 2010, o Estádio do Morumbi, em São Paulo, que passou de R$ 136 milhões para R$ 240 milhões e do Estádio da Fonte Nova, em Salvador, de R$ 400 milhões para R$ 591 milhões.
O estudo questiona ainda o retorno dos investimentos governamentais na Copa, que também incluem infraestrutura urbana, transporte e benefícios fiscais. Gaffney estima que apenas para o retorno dos gastos com os estádios a ocupação das arenas deverá ser quadruplicada em relação a atual, embora os torcedores devam pagar mais pelos ingressos. Os preços passarão de R$ 20 e R$ 30 para R$ 45 e R$ 60.
"Vai ter que arranjar torcedor disposto a pagar o dobro. Isso porque têm cidades do Norte e Nordeste que não tem tradição futebolística para lotar os estádios, como foi dito aqui e isso vai ser difícil depois da Copa. Ou seja, esses estádios devem acabar se tornando uma coisa que a gente conhece bem: os elefantes brancos", afirmou o geógrafo, em referência a obras sem função social, com elevado custo de manutenção.
A pesquisa da UFF também chama atenção para o deslocamento dos torcedores no país durante a competição e alerta para o desafio da implementação de melhorias no transporte. Não há uma estrutura ferroviária ligando o país e o próprio presidente da CBF reconheceu que o problema para a Copa são os aeroportos, afirmou. Segundo o geógrafo, os R$ 6 bilhões anunciados pelo governo federal para os aeroportos são insuficientes.

FONTE: http://portalexame.abril.com.br/economia/noticias/copa-do-mundo-deixara-elefantes-brancos-diz-pesquisador-543215.html

domingo, 7 de março de 2010

Podcast sobre a visita da Hillary Clinton

Nesta semana, aquela mulher meio estranha a Hillary Clinton veio ao Brasil pedir apoio aos Estados Unidos contra o Irã.

Neste Geokast, eu e eu mesmo falamos sobre a geopolítica por trás desse pedido e de como esse pedido é mais sério do que possa parecer.

Vocês podem ouvir clicando no link acima ou aqui.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Parece que foi há mil anos ..

As pessoas estavam preocupadas com a gripe suína.

Engraçado como essa doença foi muito temida e, do nada, desapareceu do noticiário.

Esses nossos ancestrais, quem os entende? 

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Depois de ler os comentários da Nagy, lembrei deste vídeo.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Terremoto no Chile

 por Gustavo
A litosfera do planeta é extremamente instável, especialmente nas zonas de contato entre as placas. A imagem abaixo mostra o Círculo de Fogo do Pacífico, sendo que o epicentro da imagem se refere ao tsunami de 2004. O que está em vermelho são as áreas que mais têm tectonismos ou vulcanismos, justamente por estarem nessas áreas de contato.

O terremoto no Chile foi motivado pela dinâmica convergente das placas da região ou, em outras palavras, uma placa (a de Nazca, sob o Oceano Pacífico) está sendo tragada pela outra (a Sulamericana).

Existem outros tipos de tremores, como o que atingiu Minas Gerais anos atrás, mas são consequências de uma acomodação da terra, e não do choque entre as placas. Dentro da lógica terrestre, os tremores não são anomalias, são dinâmicas naturais que ajudaram a dar a forma que o relevo terrestre possui - os chamados processos endógenos.



Assim sendo, comparando os tremores que atingiram o Haiti algum tempo atrás e o Chile ontem, observamos que os do Chile foram 32 vezes superiores aos do Haiti, mas aparentemente o Chile conseguiu lidar melhor com os tremores, já que a destruição não teve a mesma proporção que a que houve na placa caribenha, o que ajuda a reforçar a ideia de que a tragédia do Haiti foi provocada mais pelas más condições de vida (fragilidade das casas, por exemplo) do que pelo próprio tremor.


Eu gosto da ideia de que países próximos a zonas sísmicas deveriam evitar prédios com mais de cinco andares, mas existe um país que mostra que a tecnologia pode ajudar a suportar os terremotos: Japão. Mesmo sendo um país que surgiu pelo contato entre quatro placas, os amortecedores instalados nos prédios permitem o desenvolvimento vertical das cidades sem que isso represente um risco aos seus habitantes.

Em tempo: o terremoto no Chile foi provocado por movimentos orogenéticos, aqueles que atuam em pequenos pontos e provocam o soerguimento das camadas rochosas instáveis, sendo responsáveis pelo surgimento das grandes cadeias montanhosas. Os processos orogênicos são diferentes dos epirogênicos, que são mais lentos e abrangem grandes áreas, sendo capazes de produzir as feições mais largas do relevo, tais como continentes, bacias oceânicas e planaltos grandes.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Crônica urbana

por Gustavo
E o céu se fechou em nuvens escuras e ameaçadoras. Ninguém ficou com medo, já que a chegada do verão normalmente as trazia.

Brisa virando vento, como se desse início à contagem regressiva. Vento virando vendaval, vendaval virando carros enquanto a água transformava, da forma mais caótica possível, a cidade em massa de modelar. Mas estava tudo certo, a cidade cresceu desse jeito, cresceu ignorando a força da natureza, de forma que todos maldiziam a chuva, embora já estivessem acostumados a ela.

A câmera de TV, que transmitia em HDTV, mostrava (para cidadãos em suas casas) que havia cidadãos que, por estarem em suas casas, correram riscos de morte. Na telinha, um preto-pobre-doente era levado até uma ambulância. O apresentador se exaltou, confundindo com camburão aquilo que cuidava do preto-pobre-doente, que àquela hora era visto somente como preto-pobre, e pediu sua prisão, como se fosse ele culpado pelas tragédias ocorridas.

E assim se fez.

História dos sanitários no Brasil

por Gustavo
Recebi por e-mail e achei bem interessante, há uma grande riqueza em imagens.

Lembro de uma aula de Metodologia do Ensino de Geografia II (aula lamentável, a professora chegou a ficar uma hora sem falar nada, na frente de todos, enquanto se preparava para falar).  Apesar de alguns sintomas de falta de credibilidade, foi falado que, em algumas fazendas de café paulistas, dentro das casas grandes, os sanitários eram feitos de tal forma que os dejetos se depositavam diretamente nos chiqueiros, servindo de alimento para os porcos.

Pensando pelo lado bom, não havia necessidade de fossas sanitárias. Por outro lado, eu não comeria aqueles porcos.. enfim, a seguir, a apresentação (perdoem-me a repetição do verbo cagar e suas variações. Como eu disse anteriormente, eu apenas recebi em meu e-mail).

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Nunca vi um muçulmano ou árabe elogiar a Al Qaeda

Já estive em sete países árabes, sem falar na Faixa de Gaza e na Cisjordânia. Conversei com pessoas de todas as faixas etárias e condições econômicas. Também conversei com muçulmanos e árabes no Brasil e nos EUA, onde vivo atualmente. Não sou destes jornalistas que apenas leem o que outros escrevem, sem ir para o campo trabalhar, escutar, entrevistar, observar. E, em todo este tempo, jamais vi alguém elogiar Al Qaeda. Todos consideram a rede terrorista maléfica para os muçulmanos, apenas prejudicando a imagem do islã. O mesmo ocorre em editoriais de jornais na região. Todos condenam os seguidores de Bin Laden pela mortes de dezenas de milhares de muçulmanos no Iraque e no Afeganistão. A Al Qaeda é uma organização marginal, combatida por todos os governos de países islâmicos do mundo. Desde a queda do Taleban, ninguém apóia este grupo. Aliás, até mesmo no Líbano, e agora no Yemen, estes terroristas foram combatidos duramente.

Esta história de choque de civilizações é imbecil. O islã não está em guerra com o ocidente. Apenas um grupo marginal, que se denomina Al Qaeda, realiza operações tanto contra países ocidentais como contra países muçulmanos. A Guerra do Iraque não foi uma guerra do ocidente contra islamismo, já que Saddam Hussein liderava um regime secular – seu vice, Tariq Aziz, era cristão. O Taleban realmente seguia uma corrente radical do islamismo, que não representa de forma alguma o pensamento da maioria da população islâmica. E, para completar, o Taleban não atacou o ocidente antes, mas deu guarida a membros da Al Qaeda. Lembro que, no entanto, a maior parte dos responsáveis pelo 11 de Setembro moravam no dito ocidente.

Aliás, o que quer dizer ocidental? Dubai é ocidental? E o bairro cristão de Ashrafyeh, em Beirute? O que dizer da Turquia? Samuel Huntington, inclusive, não colocava o nosso Brasil entre os países da civilização ocidental – aliás, ironicamente, colocava a Espanha e a Argentina em grupos diferentes.

A Al Qaeda não representa o islamismo. Esta história não cola mais. Tampouco o Irã representa o islamismo. Trata-se de uma ditadura que não desfruta da simpatia de muitos clérigos locais. A Al Qaeda também não tem nada a ver com os palestinos. Em primeiro lugar, jamais atacou Israel, que, na lista da organização, é um inimigo de menor importância do os EUA, Arábia Saudita e Irã. Em segundo lugar, seus líderes não são palestinos. Para completar, até mesmo o Hamas andou combatendo a organização dentro da Faixa de Gaza.

Depois do 11 de Setembro, é verdade, o grupo contava com simpatia. Agora, não tem mais. Vale a pena ler a reportagem de capa da Newswek dizendo que Bin Laden perdeu a guerra e como ocorreu este declinio.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Lunar (Moon)

por Gustavo
No final do ano passado, ouvi falar desse filme, mas naquele momento, apesar das minhas buscas (que duraram dias) em sites de torrents, não consegui achar o filme. Cheguei até a baixar Wall-E (filmaço!) nomeado erroneamente como Moon nessa tentativa infrutífera.

Moon é um filme de ficção científica muito bem feito que se passa em um futuro distante (não existe localização temporal, o que permite afirmar que se passa em um momento que não faz parte do nosso passado) em que a Humanidade passa a ocupar a Lua para obter a maior parte da energia que precisa (energia solar hélio 3, depositada na superfície lunar, encapsulada e enviada para a Terra). A partir dessa energia, a humanidade resolveu os problemas de crescimento sustentável, aquecimento global, etc. Em seu funcionamento, a empresa responsável mantém um funcionário trabalhando lá, coletando as cápsulas e encaminhando-as à Terra, além de fazer reparos necessários. Fazendo-lhe companhia, um robô chamado GERTY (dublado em inglês por Kevin Spacey) que circula pela base junto de Sam, ajudando-o no que for preciso (até mesmo cortando seu cabelo). Sam (interpretado pelo ator Sam Rockwell) começa a alucinar, vendo outras pessoas junto a ele na base e, qualquer coisa além disso, seria um spoiler desagradável.

Pensando no filme, me veio à cabeça um artigo que li (não lembro aonde, infelizmente) que afirmava que os portugueses e espanhóis tiveram mais dificuldades em colonizar o Novo Mundo do que nós teríamos em colonizar a Lua ou, especialmente, Marte. Por que, então, até agora não fomos pra lá?

A primeira resposta é, na verdade, outra pergunta: é necessário irmos até lá? A vida na Terra ainda é viável para nós e a economia não depende de objetos alienígenas. A segunda resposta é, talvez, mais polêmica: financeiramente, existe forma de ganhar dinheiro com lugares extraterrenos? Oras, a vinda dos europeus às Américas, sendo mais difícil, se justificou ao longo dos tempos. Os portugueses, por exemplo, precisavam manter controle sobre a rota marítima às Índias e, posteriormente, precisavam encontrar um substituto econômico para as especiarias, cujo lucro estava em decadência pela competitividade de rotas terrestres tradicionais. O lucro obtido com esses itens fazia valer a pena invadir um continente e tentar montar colônias ali, mesmo sabendo que lá existiam povos habitando e que eles iriam impor resistências.

Existem planos e projetos de colônias auto-sustentáveis: ao invés de mandar ar, alimentos, roupas e outros objetos da Terra para outros planetas, os astronautas em trabalho de campo teriam que se virar com o que tivessem à mão. Outros autores, como Dennis Wingo, acreditam que a exploração econômica de outros corpos ajudariam a resolver os problemas de pobreza e esgotamento de recursos na Terra (um pouco de veneno: a ida ao espaço seria consequência da manutenção de um modo de vida irresponsável e gerador de lixo).

Há quem diga que ir para a Lua e colonizá-la valeria a pena se utilizássemos nosso satélite como ponto de lançamento para outros lugares do espaço (a menor gravidade e ausência de uma atmosfera como a nossa tornaria viável economicamente a exploração do sistema solar); é uma pena que a ciência per si não seja motivo suficiente para ir ao espaço, como, aliás, Moon revela.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Ritmos e modificações do espaço urbano

por Thiago Girino
Alguns fenômenos que ocorrem dentro do perímetro urbano podem alterar a sua forma e mudar a velocidade do fluxo de mercadorias, atuando assim de forma impactante no ritmo do espaço.
Entende-se como ritmo a circulação constante tanto de pessoas como de mercadorias, o que é primordial para a reprodução do sistema capitalista.
Sendo assim a cidade passa por um processo de transformação. O comércio 24 horas é um exemplo visual dessa mudança. Para que o comércio 24 horas possa permanecer ativo com sucesso, ele necessita de algumas "vantagens" que o espaço urbano deve propiciar. Dentro desse conjunto de vantagens estão as rodovias, estradas, ruas, avenidas, iluminação, segurança, etc. Desse modo, conforme a cidade vai ampliando sua mancha e tendo um desenvolvimento tanto econômico quanto social, a demanda pelo comércio 24 horas será fundamental para ampliação do lucro.
O sistema de funcionamento 24 horas está incluído na lista do que podemos considerar de "novas formas comerciais". Estes novos modelos comerciais surgiram no período do pós-Segunda Guerra, junto com a mundialização da economia e a homogenização do comércio.
O setor varejista (mais precisamente os hipermercados, supermercados e lojas de conveniência), são grandes agentes que determinam o ritmo e a transformação do espaço.
Na questão do ritmo por usarem o auto-serviço, pela quantidade de produtos de toda sorte, por dar condições para que o consumidor faça a sua "compra do mês" com o auxilio do automóvel, entre muitos outros fatores que potencializam o fluxo das mercadorias, esse tipo de estabelecimento altera não só o ritmo do capital, mais também o ritmo social. Economicamente, isso é bom de muitas formas para a reprodução do capital. Para Lefebvre (1991) o tempo pode ser dividido em três categorias:
* Tempo obrigatório: O trabalho profissional
*Tempo livre: O dos lazeres
*Tempo imposto: Das exigências diversas fora do trabalho, como transportes, das vindas, das formalidades, etc.
Embora as atividades praticadas entre esses tempos sejam diferentes, uma coisa é semelhante entre eles. Nos três períodos existe o consumo. Sendo assim, a necessidade da busca incessante do lucro faz surgir dentro do espaço pontos de produção e consumo presentes a todo instante (fator que se intensificou após a revolução industrial), visando a satisfação das necessidades, a opção de um horário confortável para o consumo e sem duvida a maior circulação de capital.
A transformação do espaço é fruto da necessidade de consumir. Se um estabelecimento com o poder de centralidade como de um shopping center ou um hipermercado se instala numa área periférica de uma região urbanizada, todo o espaço do entorno sofrerá modificações que irão favorecer e acrescentar a faixa comercial daquela determinada região. A transformação ocorrerá de diversas formas. A estrutura viária será melhorada e implantada de forma que favoreça a zona comercial. A partir disso o espaço será valorizado pelos benefícios recebidos, o que atrairá tanto o setor imobiliário quanto ao setor comercial.
No setor imobiliário a atenção é mais para a classe alta, pois a criação de espaços centrais chama a atenção de condomínios e casas de alto padrão.
Já o setor comercial vem para "complementar" a atividade comercial, oferecendo opções de consumo para que o consumidor possa ter múltipla escolha na hora de consumir. Nessa perspectiva temos o surgimento de teatros, salões de beleza, agencias de turismo, fast foods, teatros, frutarias, etc.
Considerações finais:
O ritmo imposto pelo comércio, que foi intensificado após a revolução industrial e a globalização e suas transformações espaciais atingem não só a mancha urbana mais também o cotidiano da sociedade.
Desse modo o tempo do ser humano começa a se limitar e se reduzir ao mesmo tempo em que o comércio tenta acelerar o ritmo do consumo, pois hoje entende-se o consumo como uma espécie de lazer esse fato é bem declarado quando entramos na questão do turismo.
Assim o corpo também sofre esses impactos, pois ás vezes por necessitarmos de mais tempo para o compromisso do que para as necessidades fisiológicas acabamos por defasar a nossa saúde, assim adquirindo, por exemplo, doenças como o stress, que pode ocorrer através do acumulo do cansaço.
Enfim, na situação atual esses ritmos e transformações continuam sendo exercidos pela necessidade da reprodução do capital e para o que se considera "desenvolvimento" humano, pois essa reprodução traz consigo a exclusão de parte da sociedade.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Da política em 2010

por Gustavo
Pela segunda vez em nossa curta democracia (em itálico, mesmo, pois não me parece ser uma democracia plena, já que não há em lugar algum o incentivo ao debate familiar ou coletivo sobre política), um presidente reeleito terá de deixar o cargo.

Na primeira vez que isso aconteceu, tratava-se do FHC. Contudo, em aqueles tempos, a população brasileira desejava mudança e, apesar dos esforços do Serra em se separar da imagem do então presidente, Lula foi eleito.

Neste momento, as coisas parecem indicar que a população brasileira deseja a continuidade do atual governo, tal a popularidade que o governo Lula tem. Não é possível saber qual será o efeito da equação Ciro-Marina sobre a popularidade de Dilma, mas me parece que quem vota nesses candidatos não vota em Serra.

Serra, aliás, faz o pior governo que eu já vi na vida. Parece-me que não há setor público satisfeito com ele: a segurança, a saúde e a educação estão sucateadas, e nem vou mencionar a cratera nas obras do metrô ou as enchentes que permanecem mesmo quando o volume de chuvas é baixo.

Deve ser por isso que, no carnaval, ele não está em São Paulo, mas em Pernambuco. Talvez ele esteja buscando aumentar seu nome dentro de um estado que parece muito ligado ao atual presidente, mas sempre fica a pergunta.. e se estivesse chovendo em São Paulo, como o eleitorado daqui veria essa viagem?

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Trens pelo mundo

por Gustavo
Uma das coisas que mais me incomodam no Brasil é a ausência de ferrovias pelo país. Nosso relevo não impõe grandes dificuldades e nós não temos um solo pobre em minérios de ferro. Apesar disso, nós sofremos ainda com a escolha econômica feita nos anos 1950, a que optou pela rodovia como sistema de transporte padrão.

No meu mundo perfeito, a cidade de São Paulo não concentraria sozinha os nós ferroviários e, sim, grandes cidades do interior, como Sorocaba, Campinas, São José dos Campos e Santos, formando o quadrilátero ferroviário que distribuiria as ferrovias pelo interior. Como as ações do poder público não são as mesmas que o público gostaria, só me resta lamentar os pedágios na Castelo Branco, Imigrantes, etc..

Segue uma apresentação simples que eu recebi falando de trens ao redor do mundo. Suspirei quando vi os do Japão..


Tchékhov e Dostoiévski

por Gustavo
A literatura é algo interessante. Quando bem feita, serve de testemunho de um determinado modo de pensamento ou modo de vida e, por estar me aproximando de Revolução Russa em minhas aulas, me debrucei sobre estes autores.

Já tinha lido "Crime e Castigo" anos atrás, tendo utilizado várias vezes em minhas aulas, e confesso que minha aproximação a Tchékhov foi mais acidental do que consciente. Grande surpresa, o livro de contos "A Dama do cachorrinho (e outras histórias)" é simples e fala das pequenas coisas da vida, gritando sutilmente a vida pacata e simples, mesmo com suas pequenas tragédias. Recomendo "Anna no pescoço", gostei bastante.

Acho que vou comprar mais russos para ler.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Em três décadas, todos chegaram ao espaço

Por Gustavo
Três décadas atrás, aproximadamente, ligar para Santos ou São Paulo era problemático.

Nem todas as empresas tinham telefones próprios, mas, como a demanda era grande, havia todo um comércio em torno da linha: muitos alugavam linhas de telefone e cobravam valores muito próximos aos de aluguel imobiliário, por exemplo. Quando as empresas tinham à disposição a(s) linha(s) da Telesp, vinha o outro problema: conseguir realizar uma ligação interurbana. Muitas ligações ao mesmo tempo, um esperando que o outro terminasse a chamada para que ele próprio pudesse fazer uma ligação.. Telegramas, caros na época, ajudavam a comunicar com lugares mais distantes, mas não tinham a instantaneidade dos modernos meios de comunicação.

A modernização das comunicações (maior acesso aos fixos e invasão dos aparelhos móveis), o barateamento da informática (e, até certo ponto, as privatizações, no mundo em desenvolvimento) serviram para dar impulso a uma nova lógica, que muitos autores chamariam de sociedade da informação. Salas de bate-papo, ICQ, MSN, Orkut, etc., vieram depois, e a internet foi cada vez mais ganhando um sentido para a grande população. A conectividade era o grande chamariz.

Muita gente não vê utilidade no Twitter, e eu sou um deles. Essa lógica de escrever muita coisa com poucas palavras é para poucos, e esses poucos definitivamente não perdem seu tempo no Twitter. Àqueles muitos que não conseguem, resta colocar escrever mensagens incompletas (às vezes indecifráveis, dadas as abreviações constantes), links para seus blogs pessoais ou.. usar imagens.

Nada mais significativo do que um astronauta postar fotos da Terra, tiradas em órbita, em seu Twitpic.