sábado, 27 de dezembro de 2014

Putin movimenta suas peças

Ao final da Segunda Guerra Mundial, a Europa entrava em um novo cenário em que figurava como coadjuvante de duas superpotências, URSS (que travou uma guerra direta com os alemães) e EUA (que travou batalhas mais próxima à periferia da Europa, apesar do que insistam os filmes hollywoodianos). Estes países, de ideologias oficialmente antagônicas (socialismo, cujo núcleo reside na ideia de que os trabalhadores controlariam a produção, e capitalismo, respectivamente), tinham um poder bélico acumulado em condições anormalmente elevadas em tempos de Europa devastada e restante do mundo em vias de se descolonizar.

A Guerra Fria foi um período em que o conflito, por mais que se vislumbrasse no horizonte, não poderia se materializar. Dentro dos Estados Unidos, ao longo de décadas, criou-se a ideia de uma expansão soviética ameaçadora, motivo que fez com que, nas eleições internas, muitos políticos fossem eleitos e fizessem carreira prometendo ser contrários a qualquer relação amistosa com a URSS (cuja postura sempre foi a de expansão contínua, nunca a de expansão a qualquer custo). Alguém poderia perguntar o motivo pelo qual os dois países não se enfrentariam; para responder, basta ter em mente que uma guerra só é feita quando há certeza da vitória (as exceções foram as guerras mundiais) e quando a perspectiva de lucro no pós-guerra é superior aos gastos com ela em si. Nenhuma dessas condições foram atendidas ao longo das décadas e, à medida que a corrida armamentista se intensificava, mais complicada se tornava uma guerra aberta.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Não falta água apenas, faltam também vida e política públicas



Muitas vezes se diz às crianças que as enchentes acontecem por causa do lixo que é atirado pelas pessoas, o que isenta o governo de suas más administrações e põe a culpa do problema naqueles que mais sofrem com ele. Até vinheta da Globo já teve indicando isso, à medida que a personagem jogava lixo na rua e a enchente a deixava cheia de garrafas e demais resíduos acumulados em todos os lados. Essa resposta é uma opção política, capaz de agradar o lado mais perverso de nossa classe média ("Mas de quê reclamam? Se moram ali, é porque querem, oras.."). Uma equação bem antiga, mas que ainda ecoa nas escolas atuais e cérebros antigos.

Às vezes, explicar política às crianças deveria ser um exercício fundamental para fazê-las entender que o mundo não é dividido entre eles x nós. Há diversos elementos que podem trazer questionamentos, e reduzir o debate através da demonização de um lado apenas faria com que o debate de ideias tangenciasse perigosamente a violência. É necessário que lamente-se o fato de que as crianças não parecem se interessar tanto assim por política - aliás, a maior parte dos jovens parece seguir esse rumo. É mais fácil ficar no mundo da superficialidade e das informações associativas do que aprofundar-se em temas muito abstratos (às vezes, obscuros até, como é o do domínio da política).


 










Mas tudo muda quando falta água.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Anões com armas, anões com palavras..

Vamos supor que eu, professor, dissesse em sala de aula que pessoas do Norte do Brasil não são tão competentes quanto as do Sul do país. Obviamente, essa é uma hipótese que por si só é absurda, mas as desdobremos para fins elucidativos. Algum professor de outra área, eventualmente, me corrige, apontando que meu comportamento é inadequado com o que se espera de um professor. Minha reação, dentro de tal hipótese, seria dizer que tal professor perdeu a chance de ficar quieto e que sua opinião demonstra seu "nanismo docente". Foi mais ou menos isso que aconteceu na relação entre Israel e Brasil, mas que falarei depois.
Recentemente, fui provocado a falar sobre um vídeo compartilhado no Facebook pela Federação Israelita de São Paulo. Como faço esta postagem para ser atemporal, espero que não removam o vídeo, que pode ser assistido abaixo no momento em que escrevo.
Analise-se quem postou tal vídeo. Não estamos falando de um vídeo com intenção de analisar geopoliticamente o governo de Israel e suas atitudes, mas de uma federação cuja principal proposta é "fortalecer o judaísmo, preservando a continuidade dos valores e tradições judaicas", conforme pode ser observado aqui


Eis um de nossos problemas, tal federação não busca em nenhum momento dissociar a ideia de que há um conflito territorial em pauta, omitindo o projeto nacional israelense e defendendo a tese de que tais eventos são por inveja, religiões ou por pura violência. Israel quer existir como um estado judaico e viver em paz, diz, mas esse mesmo direito é tolhido aos palestinos, como se eles não habitassem a região previamente. Mais que isso, o discurso mostra o tempo todo o uso do termo judeu e há consequências imediatas disso, pois o leitor mais atento saberá que judeu e muçulmano não são termos sinônimos a israelenses e palestinos, respectivamente - mas nem todos os leitores são atentos a essa nuance, fato que pode fazer com que alguém imagine que os conflitos explicam-se somente por esse viés. As religiões nem são tão diferentes assim, já que o alcorão tem grande influência do Antigo Testamento, não?..
O estadunidense diz ser um conflito simples, mas ele é complexo, sim. Como escreveu um amigo palpiteiro da USP, "pessoas estúpidas apreciam respostas simples para questões complexas". Dizer que o conflito é baseado na intenção de um querer o outro povo morto reduz o outro a agente capaz de oferecer somente violência, excluindo-se os direitos que este poderia eventualmente ter.

sábado, 19 de julho de 2014

Tanto mar..

Quando o avião da Maylasia Airlines (MH-370) desapareceu, no início do ano, cogitou-se que tivesse sido encontrado ao sul da Austrália. Ao chegarem no local, entretanto, viu-se que não eram destroços do avião, mas contêineres que boiavam nas águas do extremo austral. Noticiou-se que poderiam ter caído de um navio, embora muitos tenham sido suspeitado que seria lixo atirado pelos chineses, como se fosse normal deslocar um navio a fim de atirar rejeitos próximo à Antártida.

Há muito que nossa relação com os oceanos nos criaram uma outra preocupação, mas desta vez ligada aos Estados Unidos: está se formando um "continente" de plástico a partir daquilo que o país atira em tais águas. Sim, trata-se de outro caso em que se prefere transferir o problema a resolvê-lo adequadamente.


Lembre-se que, num primeiro momento, o problema não é o lixo, mas lixo. O início dessa discussão já é complicado, pois o termo lixo é, em si, depreciativo e criador da ideia de que aborda algo que não tem nenhum uso ou valor. Por isso que é melhor abordar tais materiais não com tal termo, mas como resíduos.
Dito isso, aborde-se quantos e quais são os tipos de resíduos, a saber:
- sólido: aquilo que (quase) todo mundo sabe que é reciclável;
- úmido: também pode ser reciclável e, grosso modo, aborda tudo aquilo que pode virar adubo;
- humano: aquilo que sai dos hospitais e de nossos corpos;

domingo, 19 de janeiro de 2014

Sobre os rolezinhos

O assunto da moda é o rolezinho e eu me sinto na obrigação de tecer alguns comentários:

1. Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens;

A Constituição não diz que o direito de ir e vir é válido somente quando as pessoas estão em pequenas aglomerações.
Há baderneiros? Sim. A polícia tem que agir sobre eles de forma a garantir que os outros possam fazer tranquilamente seu rolezinho. Logo, a polícia tem que proteger os indivíduos que ali estão, não atacá-los.

2. Há tempos que "o direito à cidade" tem se tornado "o direito somente ao consumo da cidade". Reflexo disso é a falta de espaços de convívio público, sobretudo em São Paulo, onde as distâncias, os custos e os problemas com transporte inibem o lazer gratuito. Por favor, atentem à diferença entre "espaço público" (planejado e construído segundo os órgãos públicos de forma a atender a sociedade) e "espaço coletivo" (lugar em que indivíduos diferentes se encontram, propositadamente ou não).

3. O que o shopping é:
(A) um local onde se pode comprar mercadorias a um preço maior do que o de comércio de rua;
(B) um local onde se consome status;
(C) um local onde se consome segurança;
(D) todas as opções acima.

Como postou um amigo meu, o shopping se tornou um espaço em que a suposta segurança é vendida às pessoas (que pagarão caro no estacionamento para terem acesso) e aos lojistas (que pagarão caro no aluguel e nas taxas para poderem estar ali). E se os lojistas começarem a se convencer de que o comércio de rua é mais seguro e mais rentável, como fica um mercado que movimento bilhões anualmente?

4. Só eu sinto um cheiro forte de preconceito e racismo quando vejo a mídia abordar o rolezinho? O que eu tenho lido de gente que reclama de falta de "bom senso" dos "rolezeiros"... peraí, todo mundo quer se divertir! Achar que um grupo social não pode porque atrapalha o dia sagrado do consumo é bem tosco..


Atualização: vale a pena gastar 20 minutos do seu dia para ver este víde.
http://www.dailymotion.com/video/xe4px_era-uma-vez-um-arrastao_news