terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Crônica urbana

por Gustavo
E o céu se fechou em nuvens escuras e ameaçadoras. Ninguém ficou com medo, já que a chegada do verão normalmente as trazia.

Brisa virando vento, como se desse início à contagem regressiva. Vento virando vendaval, vendaval virando carros enquanto a água transformava, da forma mais caótica possível, a cidade em massa de modelar. Mas estava tudo certo, a cidade cresceu desse jeito, cresceu ignorando a força da natureza, de forma que todos maldiziam a chuva, embora já estivessem acostumados a ela.

A câmera de TV, que transmitia em HDTV, mostrava (para cidadãos em suas casas) que havia cidadãos que, por estarem em suas casas, correram riscos de morte. Na telinha, um preto-pobre-doente era levado até uma ambulância. O apresentador se exaltou, confundindo com camburão aquilo que cuidava do preto-pobre-doente, que àquela hora era visto somente como preto-pobre, e pediu sua prisão, como se fosse ele culpado pelas tragédias ocorridas.

E assim se fez.

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