segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

E o direito à contravenção?

Acabei de ver o vídeo, e além de achar engraçado, achei muito simbólico.



Aquela imagem que se exibe de Israel está sendo desmontada. Não há coesão interna, já que os ortodoxos estão ganhando os holofotes mundiais e Israel já não é exemplo de como se tratar as mulheres. Ademais, há tempos, tenho lido que os sefarditas jovens esboçam contestações em relação à política regional israelense. Aparentemente, existe um choque entre a velha guarda (sobreviventes das guerras árabes-israelenses) e a jovem guarda (os que começam a reivindicar políticas de integração regional).


Eu não sou palpiteiro, mas me pergunto: o vídeo exibe apenas algo lúdico? Quais os limites entre a contravenção e o lúdico? Talvez a maior parte da resposta esteja na análise sobre os que compõem o exército israelense, do ponto de visto étnico. Vale a pena a leitura de um trecho do texto de Ella Shohat, professora de estudos culturais da Universidade de Nova York.



Um fantasma assombra o sionismo europeu: o medo de que todas as suas vítimas — palestinos, sefarditas (assim como os asquenazes críticos, dentro e fora de Israel, estigmatizados como descontentes "que odeiam a si mesmos") — finalmente percebam as similitudes que vinculam as suas respectivas opressões. O establishment sionista em Israel fez tudo que esteve ao seu alcance para materializar esse fantasma: o fomento da guerra e o culto da "segurança nacional", o retrato simplista da resistência palestina como "terrorismo"; o incitamento de situações que catalisam a tensão entre sefarditas e palestinos; a caricaturização dos sefarditas como indivíduos que "odeiam árabes" e são "fanáticos religiosos"; a promoção, por intermédio do sistema educacional e da mídia, de sentimentos de "ódio aos árabes" e auto-rejeição sefarditas; e a repressão ou cooptação de todos aqueles que promovem a aliança entre sefarditas e palestinos. Não tenho nenhuma intenção de igualar o sofrimento palestino ao sefardita (obviamente os palestinos são os mais flagrantemente injustiçados pelo sionismo), tampouco de comparar as longas listas de crimes cometidos contra ambos.
(..)
O regime atual em Israel herdou da Europa uma forte aversão ao direito de autodeterminação dos povos não-europeus: daí a qualidade inusitada, vestigial e descompassada do seu discurso, a fala atávica das "nações civilizadas" e do "mundo civilizado".

Enfim, eu gosto de ver essa dança como sendo uma interessante contravenção, embora não seja a primeira do tipo, já que ano passado e retrasado eles dançaram, o que no mínimo mostra que eles estavam preparados para sofrer retaliações de hierarquias superiores.

Dias atrás, lia-se uma reportagem que mostrava a análise de Hobbsbawn sobre a Primavera Árabe, em que o autor afirmava que

"As mais eficazes mobilizações populares são aquelas que começam a partir da nova classe média modernizada e, particularmente, a partir de um enorme corpo estudantil. Elas são mais eficazes em países em que, demograficamente, jovens homens e mulheres constituem uma parcela da população maior do que a que constituem na Europa", diz, em referência especial à Primavera Árabe, um movimento que despertou seu fascínio.

E que venha 2012, que já começou muito bem!

Nenhum comentário:

Postar um comentário