terça-feira, 3 de janeiro de 2012

O número de homicídios no Brasil é maior que o número de mortos em guerras

Acabei de ler uma reportagem muito interessante sobre um estudo que conclui que a média de homicídios no Brasil é superior ao de mortos em guerras. Aponta também algumas mudanças na evolução da violência urbana, com Belém saindo do 21º lugar (2000) para o 3º (2010).

Algumas coisas poderiam ter sido ditas, já que eles ficam numa análise um tanto quanto superficial em alguns momentos; de acordo com eles, "o investimento em segurança nas grandes capitais e suas regiões metropolitanas, fazendo com que parte do crime organizado migrasse para áreas de menor risco".


Oras, a criminalidade se expandiu rumo ao interior por uma série de fatores. Primeiro, e mais importante: a própria lógica do capitalismo prevê a busca pela expansão. Em segundo lugar, a ilegalidade recompensa, não importando se abordamos a grilagem de terras ou o tráfico de drogas. É a ilegalidade que faz com que policiais recebam subornos, militares voem clandestinamente à Bolívia para trazer drogas, juízes soltem corruptos com acelerada velocidade (lembram-se dos habeas chorpus dado ao Daniel Dantas?) e, principalmente, a juventude veja possibilidade de ganho material.

O que faltou ao estudo foi apontar que temos um quadro de fratricídio no Brasil. Quem são os mortos? Se analisarmos as mortes causadas por fatores externos (armas brancas, armas de fogo etc., excluindo as doenças), vemos que a maior parte dos corpos são de homens, pardos ou negros, de 15 a 29 anos e de classes menos abastadas, características que são também de seus algozes (por isso o uso do termo fratricídio). Aliás, como bem disse um amigo meu, há três classes sociais no Brasil: os abastados, que tudo tem; a classe média, que sonha em subir socialmente; e os bastardos, que não têm direito a nada e, de acordo com a ótica das outras classes, deveria se resignar ao pouco.

Ainda que seja uma visão exótica dos fatos, ajuda a entender muito bem o porquê de termos matado tantas pessoas em tão pouco tempo e isso permanecer silencioso. A maior parte do 1,09 milhão de mortos em 30 anos são considerados sem importância social.

Nenhum comentário:

Postar um comentário