domingo, 13 de fevereiro de 2022

A Ucrânia, de novo

Ao fim da Guerra Fria, o Top 3 de nações nucleares mostrava EUA, Rússia e.. Ucrânia.

À época, o debate era a respeito do país entregar ou não as ogivas à Rússia. Havia uma grande confiança dos EUA na democracia russa e parecia ser natural conduzir a discussão sobre a Ucrânia com cordialidade. Ainda na década de 1990, a Ucrânia concordou em ceder seu arsenal aos russos.

Algumas considerações podem ser feitas:

- existiam os que argumentavam que, sem as armas, seria questão de tempo para que os russos invadissem. Contudo, ficar com as armas significaria manter o país isolado econômica e politicamente, coisa que não se desejava.

- os ucranianos tinham as ogivas, mas não sabiam fazer a manutenção. Logo, era questão de tempo para que a Ucrânia se tornasse um país isolado, armado e pobre.

- Irã e Coreia do Norte têm sua própria visão sobre o que a Ucrânia deveria ter feito. Por outro lado, a existência desse arsenal ao lado da OTAN poderia ser um grande problema (seja pela cobiça europeia, seja por um risco de corrida armamentista regional).

Além disso, não vejo como sendo possível uma eventual guerra se iniciando na região, pois:

- toda guerra é realizada depois do cálculo a respeito do custo-benefício, ou seja, perspectiva de gastos militares durante a operação e ganhos econômicos ao fim do evento. As exceções seriam as guerras mundiais, eventos que ocorreram diante de graves crises do capitalismo.

- pelo que leio das declarações e provocações, o que Biden faz não está associado a uma eventual (e estúpida) guerra, mas a um embargo econômico na sequência. O que eles mais querem é que a Rússia dê motivo para esse embargo, por exemplo, invadindo a Ucrânia. Isso está tão claro para Putin que ele, de forma até previsível, aponta o tempo todo que não aceitará retaliações e que colocará a Europa na confusão.

- Putin, basicamente, colocou a Europa em xeque: essa região se tornou submissa e coadjuvante na geopolítica global com o fim da Segunda Guerra mundial, obedecendo às decisões dos EUA sem pestanejar. Ao ameaçá-la, ele leva os europeus a um pronunciamento, que tende a ser anti-EUA e a favor da paz da região. Isso fica explícito, inclusive, quando vemos o presidente ucraniano criticando a sede de guerra do Biden.

Os EUA são o país que fizeram uma guerra no Iraque tendo como base falsas evidências. Desmontaram o Estado iraquiano e incentivaram a fase expansionista do Estado Islâmico, que levou a sérios problemas na Síria (histórico aliado russo na região). Abandonaram o Afeganistão para gerar problema aos chineses e russos, independente de como a população afegã lidaria com uma transição brusca. 

E, agora, acusa a Rússia e incita ao conflito, o que me surpreende, afinal, pois eu esperava uma cobertura da mídia mais pertinente e isenta.. enfim.. 

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