quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

Verão, chuvas e as discussões rasas

Dia desses, em um desses fóruns online, me deparei com uma reclamação em relação às chuvas.
Cidade de baixo d'agua dnv 
Não sei de quem é a culpa, deve ser de São Pedro
Sendo texto publicado aleatoriamente na internet, fiquei pensando nas prováveis camadas de provocação embutidas nele, mas resolvi responder de uma forma tranquila e minimamente acadêmica. Como eu responderia se tal diálogo acontecesse em sala de aula? 

Não é tão simples assim. Por exemplo, se analisarmos a cidade de SP, os bueiros se tornam protagonistas, mas do jeito errado. Ocorre que importantes avenidas foram construídas através da canalização de rios, conforme o vídeo abaixo.

 

Quando chove, não são os bueiros entupidos que causam enchentes, mas os rios, que estão embaixo das avenidas e que, diante da pressão das águas, invadem essas avenidas. Não deixa de ser uma péssima forma de administrar o território. 
Quando morei em SP, trabalhava em Taboão de Serra e me incomodava com o 'piscinão' que tinham colocado bem na entrada da cidade. São soluções eleitoreiras e de baixa validade. O ideal seria um macroplanejamento metropolitano visando, através de descontos nos impostos, que as pessoas aumentassem a permeabilização de suas casas, de forma que a água tivesse maior chance de penetrar o solo no local de precipitação, ao invés de percorrer uma grande área cimentada/asfaltada/impermeabilizada. 
Fora da RMSP, o problema passa a ser nas áreas de várzeas em que os brilhantes políticos, ao longo dos últimos 140 anos, resolveram impermeabilizar (na cidade em que moro, o cara quer montar um tipo de marginal e desmatar uma das margens do principal rio daqui, da mesma forma como está do outro lado). A várzea de um rio é a área que naturalmente alaga quando chove e construir ali é pedir para ter problemas (daí que, décadas atrás, o pessoal usava essas áreas para jogar futebol, dando origem ao futebol de várzea ). 
Enfim, o problema é mais complexo do que dizer que as pessoas jogam lixo no bueiro (aliás, afirmar isso é aceitar que o sistema funcionaria perfeitamente se não fosse a falta de educação, situação que está longe de ser verdade. 

Para além disso, há de se destacar o quanto que a invasão às áreas de várzea beneficiou ao setor imobiliário, já que transformaram áreas vazias em áreas comercializáveis, bem como as novas avenidas permitiram a expansão do setor automobilístico em São Paulo - estudos apontam que o planejamento paulistano era inspirado em Chicago, algo bastante bizarro, já que são cidades de topografias diferentes entre si.

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