quarta-feira, 1 de março de 2017

Sobre os oito bilionários e o capitalismo

A notícia é velha, mas vale a pena conferir clicando no link. Veio à tona em discussão num grupo do Facebook que faço parte, pois iniciou-se mais um debate sobre capitalismo e comunismo (para algumas pessoas, ainda estamos na Guerra Fria). Enfim, dessa reportagem eu peguei a imagem abaixo, que identifica quem são os oito bilionários.
Bilionários

1. Bill Gates (EUA): cofundador da Microsoft - US$ 75 bilhões
2. Amancio Ortega (Espanha): fundador da Inditex, da Zara - US$ 67 bilhões
3. Warren Buffett (EIA): maior acionista da Berkshire Hathaway - US$ 60,8 bilhões
4. Carlos Slim Helu (México): dono do Grupo Carso - US$ 50 bilhões
5. Jeff Bezos (EUA): fundador e principal executivo da Amazon - US$ 45,2 bilhões
6. Mark Zuckerberg (EUA): cofundador e principal executivo do Facebook - US$ 44,6 bilhões
7. Larry Ellison (EUA): cofundador e principal executivo da Oracle - US$ 43,6 bilhões
8. Michael Bloomberg (EUA): cofundador da Bloomberg LP - US$ 40 bilhões
(Fonte: BBC)
Vem a pergunta provocativa: a acumulação de capitais destes oito senhores evidencia o sucesso em oferecer uma mercadoria socialmente aceita? Ilustra o sucesso do capitalismo? Sobre isso, elenquei os seguintes pensamentos:



- Temos que debater impostos sobre heranças. Já ouviram falar do estudo que mostra que as famílias ricas de Florença no século XV são as mesmas de hoje em dia? Lembrem-se que nos últimos séculos a região passou por muitas reviravoltas políticas e econômicas, mas tal cenário não se alterou e nada indica que esse seja um caso isolado. Talvez seja a hora de desmontar o movimento "Imposto é roubo" e começar a debater de forma séria se os impostos estão cumprindo a função social que se espera deles (no caso, a distribuição de renda).
- Tem que haver um dispositivo em que os maiores e menores salários não estejam tão longe entre si. Um relatório da Oxfam chega a citar que na Índia o diretor executivo da maior empresa de informática ganha 416 vezes mais que um funcionário médio da mesma empresa. Lembramo-nos de que os Panamá Papers mostraram que muitas empresas pagam menos impostos através de manobras em paraísos fiscais. Sobre isso, recomendo este link (em inglês), embora tantos outros existam por aí. Uma pena que o debate sobre esse escândalo tenha existido somente em torno de pessoas famosas que foram denunciadas, ao invés das empresas em si.
- Um dos caras mais ricos do mundo é o dono da Zara, que é acusada de manter condições de trabalho análogas às de escravidão. Isso, mais os pontos citados acima, desmonta a ideia de que o lucro vem somente do consumo, pois está ligado à forma como se deu a produção de algo. Sobre isso, recomendo que leia-se este link (reparem que eu peguei da Veja para que não se diga que minha fonte é uma revista de esquerda).
- Há quem considere sadio um sistema econômico em que exista tamanha concentração de renda? Tem muita gente que não. Por conta disso, existem debates sobre criar um imposto mundial sobre o capital. Sobre o tema, recomendo a leitura do "O Capital no século XXI", de Thomas Piketty. Utopicamente, os países determinariam um imposto sobre as fortunas do mundo e promoveriam a distribuição harmoniosa dos recursos. O autor até cita que poderíamos estar nas etapas iniciais de criação desse modelo, mas que ainda é difícil imaginar um nível tão alto de colaboração internacional.
- Aliás, cito Piketty: "A redistribuição moderna de recursos não consiste na transferência de riqueza dos ricos para os pobres, ou pelo menos, não de maneira tão explícita. Ela consiste em um financiamento dos serviços públicos e das rendas de substituição de forma mais ou menos igualitária para todos, especialmente nos domínios da educação, da saúde e das aposentadorias".

Em suma: nosso capitalismo ainda precisa de muito aprimoramento para poder chegar a um padrão elevado de qualidade de vida.

Mas e a tal de meritocracia?

O paradoxo no argumento dos que defendem a meritocracia é que eles não parecem ter estudado seriamente sobre isso, logo, não poderiam defender com unhas e dentes tais ideias. 😁
A meritocracia, em sua origem, propõe que não exista nenhum tipo de barreira entre o indivíduo e seu pleno desenvolvimento, o que só poderia trazer benefícios à sociedade. Por exemplo, não deveria haver racismo, pobreza ou fome que pudessem atrapalhar tal evolução. Se o socialismo defende que todos devam chegar ao final da vida com as mesmas coisas, a meritocracia defende que todos devam começar suas vidas tendo acesso às mesmas coisas. Quem defende essa corrente não deveria, por exemplo, criticar programas como Bolsa Família ou Escola, visto que tais programas têm por objetivo amenizar a diferença social entre os indivíduos.
A meritocracia defendida neste momento no Brasil (em redes sociais ou em conversas por aí) propõe que as diferenças no início das vidas sejam respeitadas em função da manutenção do status quo. Por isso que não é meritocracia de verdade, é apenas defesa do privilégio possuído (defesa que se torna perversa à medida que propõe a redução das cobranças de impostos, um instrumento importante de distribuição de riquezas que amenizaria os problemas sociais existentes no país).

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