segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Não falta água apenas, faltam também vida e política públicas



Muitas vezes se diz às crianças que as enchentes acontecem por causa do lixo que é atirado pelas pessoas, o que isenta o governo de suas más administrações e põe a culpa do problema naqueles que mais sofrem com ele. Até vinheta da Globo já teve indicando isso, à medida que a personagem jogava lixo na rua e a enchente a deixava cheia de garrafas e demais resíduos acumulados em todos os lados. Essa resposta é uma opção política, capaz de agradar o lado mais perverso de nossa classe média ("Mas de quê reclamam? Se moram ali, é porque querem, oras.."). Uma equação bem antiga, mas que ainda ecoa nas escolas atuais e cérebros antigos.

Às vezes, explicar política às crianças deveria ser um exercício fundamental para fazê-las entender que o mundo não é dividido entre eles x nós. Há diversos elementos que podem trazer questionamentos, e reduzir o debate através da demonização de um lado apenas faria com que o debate de ideias tangenciasse perigosamente a violência. É necessário que lamente-se o fato de que as crianças não parecem se interessar tanto assim por política - aliás, a maior parte dos jovens parece seguir esse rumo. É mais fácil ficar no mundo da superficialidade e das informações associativas do que aprofundar-se em temas muito abstratos (às vezes, obscuros até, como é o do domínio da política).


 










Mas tudo muda quando falta água.

É claro que há os que neguem que haja racionamento no acesso à água (deve ser porque esses que escrevem moram em bairros privilegiados pelo abastecimento e dialogam com pessoas (1) que compartilham a mesma posição social e/ou (2) moram em lugares não afetados pela estiagem). A todos os outros habitantes da metrópole paulistana soa mentira que alguém em sã consciência resolva negar que houve racionamento.
O mais inusitado é que Reinaldo Azevedo nega o racionamento, mas a própria Veja divulga que há racionamento durante a noite em algumas regiões e, mesmo quando há algo saindo da torneira, há grande chance de ser água consumida, fazendo dela algo muito contaminado. Indaga-se, então, as raízes do problema de falta de água, ao que propõe-se três bases:

- Transposição do rio Piracicaba e do sistema Parnaíba por conta das águas poluídas
Há tempos que a bacia de São Paulo não consegue fornecer água ao município, apesar do período de chuvas e de rios que ali estão. As soluções adotadas pelo poder público em relação ao esgoto (doméstico e industrial) tornaram tal bacia completamente inútil para o consumo da própria região e não há previsão de que isso mude algum dia. Enquanto isso, São Paulo cada vez mais assume características de local desértico: suas precipitações não são suficientes para o abastecimento da região, obrigando a importação de água, conforme a mídia tem mostrado, ainda que de forma sutil. Em suma: daquilo que chove, nada se aproveita, pois tanto a água infiltrada quanto a que escorre se contaminam.

- Seria possível amenizar os impactos da estiagem se não estivéssemos em ano eleitoral
Ah, os anos eleitorais.. O governo de São Paulo, desde o ano passado, poderia ter iniciado uma campanha de conscientização do consumo da água mas, ao que tudo indica, preferiu ficar torcendo para que setembro trouxesse chuvas que aliviassem um pouco a pressão seca da população. Negou tanto que houvesse problemas que convenceu e, ao convencer o menos atento, acabou estimulando o uso desenfreado das águas. Se tivessem lançado um programa com descontos no pagamento das contas para aqueles que reduzissem o consumo (desde o segundo semestre de 2013, quando ainda havia chuvas), provavelmente a situação estaria um pouco mais aliviada. Não houve tal projeto e Alckmin hoje lidera as pesquisas, apesar do custo social de tal decisão.

- Má administração dos recursos hídricos
Ok, os reservatórios sofreram com a estiagem, mas é interessante notar que os reservatórios não conseguiram suportar um trimestre de estiagem anormal. Não se pode supor que os reservatórios estavam cheios no início do ano; logo, por quê já faltava água ANTES da estiagem chegar?
Sabendo que a SABESP sozinha é responsável pelo desperdício de 1/3 da água potável existente e levando em consideração que todas as reformas necessárias para que não houvesse mais carência custariam, no máximo, o lucro de três anos que a empresa tem, pergunta-se: onde estão essas reformas? Onde está a Sabesp?
Ah, se tivéssemos uma mídia combativa e que pudesse questionar essa estatal, independente de rabo preso de seus chefes....

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