Vamos supor que eu, professor, dissesse em sala de aula que pessoas do Norte do Brasil não são tão competentes quanto as do Sul do país. Obviamente, essa é uma hipótese que por si só é absurda, mas as desdobremos para fins elucidativos. Algum professor de outra área, eventualmente, me corrige, apontando que meu comportamento é inadequado com o que se espera de um professor. Minha reação, dentro de tal hipótese, seria dizer que tal professor perdeu a chance de ficar quieto e que sua opinião demonstra seu "nanismo docente". Foi mais ou menos isso que aconteceu na relação entre Israel e Brasil, mas que falarei depois.
Recentemente, fui provocado a falar sobre um vídeo compartilhado no Facebook pela Federação Israelita de São Paulo. Como faço esta postagem para ser atemporal, espero que não removam o vídeo, que pode ser assistido abaixo no momento em que escrevo.
Analise-se quem postou tal vídeo. Não estamos falando de um vídeo com intenção de analisar geopoliticamente o governo de Israel e suas atitudes, mas de uma federação cuja principal proposta é "fortalecer o judaísmo, preservando a continuidade dos valores e tradições judaicas", conforme pode ser observado aqui.
Eis um de nossos problemas, tal federação não busca em nenhum momento dissociar a ideia de que há um conflito territorial em pauta, omitindo o projeto nacional israelense e defendendo a tese de que tais eventos são por inveja, religiões ou por pura violência. Israel quer existir como um estado judaico e viver em paz, diz, mas esse mesmo direito é tolhido aos palestinos, como se eles não habitassem a região previamente. Mais que isso, o discurso mostra o tempo todo o uso do termo judeu e há consequências imediatas disso, pois o leitor mais atento saberá que judeu e muçulmano não são termos sinônimos a israelenses e palestinos, respectivamente - mas nem todos os leitores são atentos a essa nuance, fato que pode fazer com que alguém imagine que os conflitos explicam-se somente por esse viés. As religiões nem são tão diferentes assim, já que o alcorão tem grande influência do Antigo Testamento, não?..
O estadunidense diz ser um conflito simples, mas ele é complexo, sim. Como escreveu um amigo palpiteiro da USP, "pessoas estúpidas apreciam respostas simples para questões complexas". Dizer que o conflito é baseado na intenção de um querer o outro povo morto reduz o outro a agente capaz de oferecer somente violência, excluindo-se os direitos que este poderia eventualmente ter.