quarta-feira, 21 de abril de 2010

Sobre Amazônia

por Gustavo
Este artigo chegou ao meu e-mail via grupo de discussão e é do Lúcio Flávio Pinto, paraense que já ganhou alguns prêmios internacionais. Por se tratar de um artigo jornalístico, falta-lhe aquelas referências que o mundo acadêmico requer, na maioria dos casos, e eu honestamente senti falta delas, já que ele me deu vontade de me aprofundar nesses estudos. Apesar disso, vale a pena ler o artigo que colabora para entender a relação Brasil - Amazônia, do ponto de vista histórico-político-econômico.



O crime legal

A história contemporânea da Amazônia segue dois marcos. Sem considerá-los, ninguém poderá entender o que acontece na região. O primeiro deles, por ordem cronológica, tem dois desdobramentos. Começou na segunda metade da década de 50 do século passado, quando pela primeira vez a Amazônia foi integrada por terra ao restante do país, inicialmente através das rodovias Belém-Brasília e Brasília-Acre (seguidas de outras estradas de porte semelhante, como a Transamazônica) .
Esse marco foi arrematado duas décadas depois, quando os militares, no poder pelo período mais longo de todas as suas intervenções na vida política brasileira, decidiram acelerar a ocupação desencadeada pelas estradas. O lema era categórico: “integrar para não entregar”.
Uma longa tradição de raciocínio geopolítico muito forte, sobretudo na caserna, garantia que a Amazônia era objeto, desde o início da presença européia, de uma cobiça internacional profunda, persistente e ameaçadora. Ela só não se consumara porque o colonizador português mostrara sua valentia (além de sagacidade) na defesa (e expansão) das fronteiras amazônicas. Esse sentimento foi repassado ao nativo.
Mas essas qualidades já não eram suficientes para assegurar a soberania nacional sobre a mais extensa e rica fronteira do país. Os “espaços vazios” constituíam o ponto frágil da vigilância e da defesa da integridade territorial. Era preciso que cidadãos nacionais ocupassem esses espaços, atraídos pelas promessas de enriquecimento e intensamente apoiados pelo governo (inclusive através de colaboração financeira do erário). A Amazônia precisava deixar sua condição de reserva e passar a produzir.
Essa contingência se impôs quando de outro marco: a primeira crise do petróleo, de 1973. O mundo se redefiniu para se adaptar ao novo custo da energia. Em nenhum lugar do mundo há mais energia contida na natureza do que na Amazônia. Em seus rios caudalosos, no seu subsolo, nas suas árvores, nas suas chuvas, no seu sol. Um dos lugares-chave da nova redivisão internacional da Amazônia passou a ser a Amazônia.
Ela tem duas das maiores fábricas de alumínio do planeta (e o alumínio é o bem industrial mais eletrointensivo que existe), a maior fábrica de alumina, algumas das principais plantas minerais, a quarta maior hidrelétrica da Terra. Quase todos esses bens e insumos são remetidos para o exterior. As empresas que os produzem contam com participação acionária de algumas das principais multinacionais. A Amazônia, internacionalizada desde a sua origem (foram os espanhóis que lhe deram esse nome) e nacionalizada só recentemente, já sob o Império, nunca foi tão internacionalizada quanto agora. E nunca tão integrada à economia nacional. Ao contrário do que pensavam os militares no poder, uma coisa levou à outra, ao invés de impedi-lo.
Os estrangeiros parecem ter aprendido que é mais cômodo e mais rentável explorar as riquezas da Amazônia sob um governo local do que abrindo filial colonial da metrópole no além-mar. Os relatos sobre tentativas de intervenção estrangeira direta não resistem a um exame mais apurado.
Diz a lenda (revestida de verdade histórica nos manuais de ocasião, muito caros aos nacionalistas) que, no século XIX, a poderosa Inglaterra só não anexou a Amazônia porque Eduardo Angelim, o principal líder da Cabanagem, a maior insurreição popular da história brasileira (irrompida em 1835), rejeitou as propostas insinuantes de autonomia de um representante britânico, colocando-o para correr.
Documentos oficiais ingleses, aos quais só recentemente se teve acesso, revelaram que o próprio governo brasileiro, na época chefiado pelo regente paulista Diogo Feijó (em nome do imperador Pedro II, ainda menor), autorizou a Inglaterra a invadir secretamente a convulsionada província para reprimir os rebeldes. A tarefa estava além das possibilidades das tropas brasileiras, empenhadas em combater outra grave insurreição, a dos Farrapos, no outro extremo do país, o Rio Grande do Sul.
Navios da armada inglesa (a mais poderosa da época) estiveram em Belém e seu comandante concluiu que dominaria tudo com apenas 150 fuzileiros navais. Se quisesse fazer da Amazônia uma nova Índia, era o momento. Feitos os cálculos, Sua Majestade verificou que lucraria mais mantendo a nacionalidade brasileira. Ao invés de tropa, mandou seu banco e financiou o início da exploração da borracha. O Banco do Brasil levou quase um século para se instalar na região, depois de criado.
O ministro das relações exteriores da Inglaterra, Lorde Palmerston, instruído pelo embaixador no Rio de Janeiro, não aceitou a proposta de Feijó para a invasão secreta, a repressão e a pacificação da província distante, que seria devolvida então ao governo imperial. Apresentou várias justificativas relacionadas à legalidade e à autodeterminação dos povos, mas, na verdade, tinha em mente números.
A Inglaterra ganhou muito dinheiro comprando e financiando a borracha amazônica. E, depois, quando constatada a inviabilidade de aumentá-la na escala exigida, partiu para o sucedâneo asiático, a partir de sementes coletadas no Pará. Tudo dentro da lei. Sem contrabando, ao contrário do que proclama outra lenda compensatória.
A “pacificação” da província rebelde, que o governo imperial acabou por assumir, foi mais sangrenta do que os motins políticos. Depois de cinco anos de conflagração, 20% da população da Amazônia morrera, com maior ênfase na fase da “pacificação”. Se fosse hoje, seriam mais de dois milhões de mortos. Há algo semelhante na história do Brasil? Não é tão frequente nem na belicosa história da humanidade.
Histórias de pé quebrado sobre a “cobiça internacional” da literatura geopolítica têm servido de habeas corpus ao saque dos recursos amazônicos, inclusive humanos, praticado pelos nacionais. Possibilitam até a pilhagem internacional, sem chamar a atenção da opinião pública, condicionada a achar que internacionalização é sinônimo de invasão armada.
Foi assim que o governo federal conseguiu criar o Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia). Dizia-se que os Estados Unidos aproveitariam uma manobra militar conjunta na vizinha (ex-inglesa) Guiana (o Brasil foi convidado e não aceitou), para ensaiar a invasão da Amazônia. Usaria o conceito de “soberania limitada”, ao qual a Amazônia estaria sujeita por ser patrimônio da humanidade.
Assim, o Sivam, mesmo custando dois bilhões de dólares, não passou por concorrência. Era mais uma ação de emergência pela defesa da ameaçada segurança nacional na Amazônia, alvo da insaciável cobiça internacional. A dispensa de licitação criou um dos escândalos que abalou a administração do presidente Fernando Henrique Cardoso.
De lá para cá as exportações amazônicas cresceram mais de quatro vezes, a participação acionária de empresas estrangeiras se expandiu e os vínculos ao mercado mundial foram reforçados. Há menos “espaços vazios”, não só porque a população cresceu a uma taxa superior à da média nacional, como porque os pioneiros que abrem essas frentes foram responsáveis pelo maior desmatamento de toda história da humanidade: em meio século puseram abaixo área equivalente a três vezes o tamanho do Estado de São Paulo, que concentra um terço da riqueza nacional.
Ou seja: integrada, para não ser entregue aos piratas estrangeiros (ou aos “marines” americanos), a Amazônia paga aos seus protetores um preço. O de deixar de ser Amazônia. É assim que se torna Brasil, finalmente.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Chuvas nos anos 60

por Gustavo
































































Acima, algumas fotos tiradas em tempestades dos anos 60 em São Paulo.
Interessante notarmos que já naquela época havia a formação de enchentes e, para variar, o paulistano perdia muito de seu tempo só esperando a água baixar..

Abaixo, algumas canções (quase tenho certeza absoluta de que são do Adoniran Barbosa) sobre as chuvas.

Abrigo de Vagabundos

Adoniram Barbosa


Eu, arranjei o meu dinheiro,
Trabalhando o ano inteiro,
Numa cerâmica,
Fabricando pote,
E lá no alto da Moóca,
Eu comprei um lindo lote,
Dez de frente, dez de fundos,
Construí minha maloca,
Me disseram que sem planta, não se pode construir,
Mas quem trabalha, tudo pode conseguir,
João Saracura,
Que é Fiscal da Prefeitura,
Foi um grande amigo,
Arranjou todo pra mim !

Por onde andará ?
O Jóca e Mato Grosso,
Aqueles dois amigos,
Que não quis me acompanhar,
Andarão jogados,
Na Av. São João ?
Ou vendo o sol quadrado,
Na detenção ?

Minha maloca,
A mais linda que eu já vi !
Hoje está legalizada,
Ninguém pode demolir !

Minha maloca,
A mais linda desse mundo,
Ofereço aos vagabundos,
Que não tem onde dormir !!!

Por onde andará ?
O Jóca e Mato Grosso,
Aqueles dois amigos,
Que não quis me acompanhar,
Andarão jogados,
Na Av. São João ?
Ou vendo o sol quadrado,
Na detenção ?

Minha maloca,
A mais linda que eu já vi !
Hoje está legalizada,
Ninguém pode demolir !

Minha maloca,
A mais linda desse mundo,
Ofereço aos vagabundos,
Que não tem onde dormir !


mais uma...


Despejo Na Favela
(ADONIRAN BARBOSA)
Quando o oficial de justiça chegou
La na favela
E contra seu desejo / entregou pra seu Narciso um aviso pra uma ordem de despejo
Assinada seu doutor , assim dizia a petição "dentro de dez dias quero a favela vazia /e os
barracos todos no chão"
É uma ordem superior ,
Ôôôôôôôô Ô meu senhor, é uma ordem superior
Não tem nada não seu doutor, não tem nada não
Amanhã mesmo vou deixar meu barracão
Não tem nada não seu doutor, vou sair daqui pra não ouvir o ronco do trator
Pra mim não tem problema em qualquer canto me arrumo de qualquer jeito me ajeito
Depois, o que eu tenho é tão pouco, minha mudança é tão pequena que cabe no bolso de trás
Mas essa gente ai hein como é que faz????
ÔÔÔÔÔÔÔÔÔÔÔ meu senhor mas essa gente aí hein como é que faz????


e a última...


Agüenta a Mão, João
Adoniran Barbosa
Composição: Adoniran Barbosa / Hervé Clodovil


Não reclama
Contra o temporal
Que derrubou teu barracão
Não reclama
Guenta a mão joão
Com o Cibide
Aconteceu coisa pior
Não reclama
Pois a chuva
Só levou a tua cama
Não reclama
Guenta a mão joão
Que amanhã tu levanta
Um barracão muito melhor

C'o Cibide coitado
Não te contei?
Tinha muita coisa
A mais no barracão
A enchurrada levou seus
Tamanco e o lampião
E um par de meia que era
De muita estimação
O Cibide tá que tá dando
Dó na gente
Anda por aí
Com uma mão atrás
E outra na frente


OBS: Adoniran morreu em 1982

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Dia do Índio..

Aquífero descoberto no Norte seria maior que Guarani

pel'O Estado de S. Paulo

Pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA) divulgarão  oficialmente na semana que vem a descoberta do que afirmam ser o maior aquífero do mundo. A imensa reserva subterrânea sob os Estados do Pará, Amazonas e Amapá tem o nome provisório de Aquífero Alter do Chão, em referência à cidade de mesmo nome, centro turístico perto de Santarém.

Temos estudos pontuais e vários dados coletados ao longo de mais de 30 anos que nos permitem dizer que se trata da maior reserva de água doce subterrânea do planeta. É maior em espessura que o Aquífero Guarani, considerado pela comunidade científica o maior do mundo, assegura Milton Matta, geólogo da UFPA. A capacidade do aquífero não foi estabelecida. Os dados preliminares indicam que ele possui uma área de 437,5 mil quilômetros quadrados e espessura média de 545 metros. menor em extensão, mas maior em espessura do que o Guarani.

Matta cita a porosidade da rocha em que a água está depositada como um dos indícios do potencial do reservatório. A rocha é muito porosa, o que indica grande capacidade de reserva de água. Além do mais, a permeabilidade (a conexão entre os poros da rocha) também é grande.

Segundo ele, apesar de as dimensões da reserva não terem sido  mapeadas, sai do aquífero a água que abastece 100% de Santarém e quase toda Manaus. A vazão dos poços perfurados na região do aquífero é outro indício de que sua reserva é muito grande, afirma Matta.

Para o geólogo Ricardo Hirata, do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo, a comparação com o Guarani é interessante como referência, mas complicada. O Guarani é um aquífero extremamente importante para o Brasil e para a América Latina, mas não é o maior do mundo. Há pelo menos um aquífero, na Austrália, que é maior que o  Guarani, contesta.

Para Hirata, também se deve levar em conta a localização das reservas ao se comparar as duas. Pela alta demanda e pela baixa disponibilidade de água que temos nas Regiões Sudeste e Sul, podemos dizer que o Guarani é estrategicamente muito mais importante do que um aquífero no Norte, mesmo que imenso.

Matta afirma categoricamente que o Aquífero Alter do Chão pode abastecer toda a população do mundo por centenas de anos. Afirma também que o acesso à água da reserva nortista é fácil. Aqui, o sujeito encontra água a uma profundidade de 300, 350 metros. Para chegar até a reserva do Guarani, às vezes é preciso cavar mais de mil metros.

O próximo passo do pesquisador é conseguir financiamento para um estudo sistemático da reserva subterrânea. Matta já concluiu um projeto para pedir recursos ao Banco Mundial.

domingo, 11 de abril de 2010

Mar Mediterrâneo "encheu-se" em menos de dois anos com a maior inundação de sempre


O Mar Mediterrâneo “encheu-se” com uma descarga de água que chegou a ser mil vezes superior ao actual rio Amazonas no espaço de alguns meses a dois anos e não de dez a dez mil anos, como se pensava até agora.

Esta é uma das principais conclusões de um estudo do Conselho Superior de Investigações Científicas (CSIC) de Espanha, publicado na revista "Nature", em que se recorda que o Mar Mediterrâneo quase chegou a secar há seis milhões de anos, ao ficar isolado dos oceanos durante um período de tempo prolongado, devido ao actual levantamento tectónico do Estreito de Gibraltar.

Quando as águas do Atlântico encontraram de novo um caminho através deste estreito, encheram o Mediterrâneo com a maior e a mais brusca inundação que a Terra jamais conheceu, referem os cientistas. Esta enorme descarga de água, iniciada provavelmente pelo abatimento do istmo que liga a África à Europa e o desnível de ambos os mares (de 1500 metros), inundou o Mediterrâneo a um ritmo de até dez metros diários de subida do nível do mar.

Daniel García-Castellanos, investigador do CSIC acrescentou que "a inundação que pôs fim à dessecação do Mediterrâneo foi extremamente curta e, mais do que assemelhar-se a uma enorme cascata, deve ter consistido numa descida mais ou menos gradual desde o Atlântico até ao centro do Mar de Alborán".

Erosão de 200 quilómetros não foi causada por um rio

O estudo revelou que este episódio provocou no fundo marinho uma erosão de 200 quilómetros de comprimento e vários quilómetros de largura. Nos anos 90, os engenheiros do túnel que devia unir a Europa e África estudaram o subsolo do Estreito de Gibraltar e depararam-se com este rego de várias centenas de metros de profundidade, repletos de sedimentos pouco consolidados.

Na altura pensaram que esta enorme erosão tinha sido causada por algum rio de grande caudal durante a época de seca extrema do Mediterrâneo. Neste estudo, os investigadores espanhóis demonstraram que a erosão não foi produzida por um rio, mas sim por um enorme fluxo de água procedente do Atlântico.

Os investigadores frisaram ainda que “uma mudança tão grande e abrupta na paisagem terrestre” como a que se deduziu “poderá ter tido um impacto notável no clima daquele período”.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Enquanto isso, em 1859 e 1863..

Mas como encontrar essa dedicação e essas habilitações, que se requer nos professores, quando elles são tão mesquinhamente retribuídos?
Discurso com que o illustrissimo e excellentissimo senhor senador José Joaquim Fernandes Torres, presidente da provincia de S. Paulo, abrio a Assembléa Legislativa Provincial no anno de 1859. S. Paulo, Typ. Imparcial de Joaquim Roberto de Azevedo Marques, 1859. 
Achei aqui.


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As nossas escholas publicas, regidas por homens que não aprenderam o officio de Mestres, que não se instruíram pela mór parte á fundo nas materias á ensinar, e que vivem descontentes de sua sóte por não terem sufficientes meios de subsistencia, por não contarem seguro o futuro de suas familias, e por não serem acoroçoados no trabalho pela estima geral da população., as nossas escholas publicas despojadas de casas, onde se alojem, dos utensis essenciaes ao seu exercicio, do regimen interno por onde se guiem, e de inspecção acurada que as active (..)
O mesmo mal estar das escholas públicas se observa nas privadas, e illude-se quem imputa a existencia d'estas aos defeitos d'aquellas. Pessoas ha que não admittem o contacto, que se dá nas instituições publicas, de seus filhos com os de todas as classes, e essa é a causa mais influente da manutenção do ensino particular em competencia com o da Provincia, aliás gratuito.

Vicente Pires da Motta. "Documentos que acompanham o relatorio que o ill.mo e ex.mo s.r conselheiro doutor Vicente Pires da Motta apresentou á Assembléa Legislativa Provincial no anno de 1863. S. Paulo, Typ. Imparcial de Joaquim Roberto de Azevedo Marques, 1863."

Achei aqui.

Parabéns, PSDB, pelos teus (praticamente) 150 anos consecutivos no governo do estado de São Paulo.