16 maio , 2010
por Hervé Morin
O vulcão islandês continua sendo uma ameaça persistente para o transporte aéreo europeu. A volta de sua atividade perturbou diversos aeroportos nos últimos dias. Para analisar melhor o comportamento do Eyjafjallajökull, duas equipes de vulcanólogos europeus foram no início de maio à Islândia. Patrick Allard, do Instituto de Física Global de Paris (CNRS-CEA), faz parte delas, e conseguiu chegar até o cume do vulcão.
Le Monde: Como explicar os caprichos do Eyjafjallajökull?
Patrick Allard: Eles se devem, acima de tudo, às mudanças de direção dos ventos. A erupção continua. Ela começou no dia 20 de março pela emissão tranquila de um magma basáltico fluido (47% de silício) à beira da geleira com 200 metros de espessura que cobre o vulcão. A partir do dia 14 de abril, foi um magma diferente, mais rico em silício (57%), e portanto mais viscoso, chamado de andesita, que irrompeu de maneira explosiva através da geleira, por meio do duto central do vulcão.

Le Monde: Isso significa que não é mais preciso misturar magma e gelo para produzir cinzas?
Allard: Exato. Nesse momento estamos lidando com uma pura fragmentação explosiva do magma, sem interação com o gelo (as cinzas emitidas são “secas”). Nós também pudemos verificar isso quando chegamos à beira da cratera, no sábado (8), para ali efetuar medições da composição dos gases magmáticos por meio de espectroscopia infravermelha. No entanto, as interações entre magma e gelo continuam sendo muito prováveis, pois ainda há gelo dentro da cratera de 300 metros de diâmetro formada pela erupção, e todo o entorno da geleira está fraturado, com gigantescas fissuras abertas.
Le Monde: Como foi sua exploração da cratera?
Allard: Foi um momento muito intenso. Nós estávamos a somente 800 metros das bocas eruptivas e a coluna subia a três quilômetros. Felizmente, o tempo estava muito limpo, o que nos permitiu acompanhar a trajetória dos blocos de lava, alguns com metros de altura, que eram ejetados até um quilômetro de altura. Em quase quarenta anos de experiência com vulcões ativos, foi uma das atividades mais impressionantes que pude ver de tão perto.
Le Monde: Os vulcanólogos têm apólices de seguro próprias?
Allard: Não. Subir em vulcões faz parte de nossa profissão e implica riscos que, graças à experiência, podemos administrar de forma calculada. Ainda que seja impressionante de perto, a erupção que está em curso continua sendo de amplitude média. O que nos surpreende é o fato de ela perdurar em um regime explosivo constante, sendo que poderíamos esperar que ela diminuísse progressivamente à medida que o magma fosse perdendo seus gases.
Le Monde: O sr. tem uma visão clara do que se passa no subsolo?
Allard: Não. Os tremores registrados antes e durante a erupção definem os dutos de alimentação quase verticais vindos de 20 a 25 quilômetros de profundidade, mas não dispomos de imagens precisas do reservatório magmático do vulcão. Para isso, seria preciso uma espécie de ecografia do sistema, utilizando uma rede sísmica muito densa. As equipes islandesas ainda não tiveram condições de fazê-la, apesar de administrarem muito bem seu vulcão.
Le Monde: O sr. tem ideia de qual será a duração da erupção?

Le Monde: Na época, o vulcão Katla, que é bem próximo e maior, também despertou…
Allard: De fato. Mas por enquanto, não há nenhum sinal anormal registrado sob o Katla.
Tradução: Lana Lim
Fonte: Le Monde