segunda-feira, 14 de março de 2011

Chineses em Angola : um novo imperialismo?


O analista angolano e ativista dos direitos humanos Rafael Marques, classificou as relações entre a China e Angola de "novo imperialismo". Em entrevista à Deutsche Welle, ele disse que não existe uma integração e nem uma cooperação entre Angola e China para benefício mútuo.

Os chineses recebem muito petróleo de Angola e os angolanos quase nada para a economia e o desenvolvimento do país. Trata-se de uma situação desfavorável à maioria dos angolanos.
Onde tudo começou

Segundo o analista, a relação entre a China e Angola sustenta o regime do Presidente José Eduardo dos Santos. Foi por meio das obras chinesas que o presidente, em 2008, nas eleições prometeu a construção de um milhão de casas, estradas, reabilitação das infraestruturas do país, explica Marques.

O ativista complementou dizendo que muitas dessas infraestruturas feitas por chineses já se encontram em estado avançado de degradação, estradas precisam ser refeitas e novos contratos precisam ser atribuídos para reparar as “obras feitas de forma descartável”, como o povo gosta de dizer, relembra Marques.

Hospital às moscas

Entre as obras descartáveis, Marques destacou o Hospital Geral de Angola, em Luanda. Passados apenas quatro anos da inauguração, o centro de saúde teve de ser evacuado por causa das fissuras que se abriram no edifício, ameaçando implodir.

A alternativa encontrada foi um hospital de campanha. O ativista angolano lamenta o fato de o país precisar desta infraestrutura agora, sendo que em 27 anos de guerra civil Angola nunca teve um hospital em tendas.

Estradas levadas pelas chuvas

Com relação às estradas, Marques disse que o asfalto de muitas estradas construídas por empresas chinesas desaparecem com as primeiras chuvas.

Mãe com crianças em frente a um hospital,  no Kuito, à espera de comidaBildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift:  Mãe com crianças em frente a um hospital, no Kuito, à espera de comida Segundo o ativista, o governo está a excluir os angolanos: “porque se os angolanos participassem desse processo de reconstrução, certamente veriam como as estradas e os hospitais estão sendo mal feitos, e teriam maior capacidade de intervenção e crítica.” O fato dos angolanos não terem acesso a empregos e condições básicas de vida, só lhes resta reivindicar comida e se darem por contentes, finaliza Marques.

A grande bandeira do governo angolano tem sido a reconstrução de Angola, mesmo que esta tenha sido entregue aos chineses.  Estima-se que haja 100 mil chineses trabalhando, em Angola, no ramo da construção, imobiliário e do comércio.

Autora: Glória Sousa
Revisão: Bettina Riffel / António Rocha

terça-feira, 8 de março de 2011

A informalidade – Uma outra tragédia exposta pelas águas de Nova Friburgo

por Mauro Zurita Fernandes - Geógrafo

Nesse momento de "rescaldo" de " revirar os escombros" em busca do que restou e de onde se pode ressurgir, aparece incólume uma outra tragédia tanto quanto avassaladora: A INFORMALIDADE!

Pessoas que nunca possuíram escrituras públicas de seus imóveis, estabelecimentos comerciais e indústrias totalmente clandestinos, sem alvarás e licenças das mais diversas...

E então... Como ter acesso aos benefícios financeiros que o Estado sinaliza?

Aluguel social? Então prova que é proprietário?

Recursos para o comércio e indústria? Mostra o alvará de funcionamento?

E se o foco for o viés ambiental, "aí então é que o bicho pega, véi!"

E já começou a corrida pela "legalização ambiental" do empreendimento atingido pelas águas de Nova Friburgo.

Agora está todo mundo correndo para o IBAMA para pegar o tal licenciamento ambiental, como se fosse um formulário de uma folha só, a ser preenchido ali na hora, após duas ou três perguntinhas...

E é bom que se diga: Licenciamento ambiental de atividades locais e regionais não é o IBAMA quem fornece.

E quando se vê os órgãos de meio ambiente se mobilizando para agilizar esses licenciamentos ambientais visando única e exclusivamente garantir o acesso do interessado aos recursos financeiros disponíveis, a gente inexoravelmente concluí o que na verdade já se sabia mas muitos nunca quiseram ou irão admitir:

Que o viés ambiental é secundário, de somenos importância, e continua sendo o grande empecilho para o desenvolvimento do País. Pelo menos esse modelo de desenvolvimento que está aí, não "a bater em nossa porta" mas a derrubar a nossa casa e a destruir a nossa cidade.

Ou se muda o modelo de licenciamento ou se muda o modelo de desenvolvimento.

Desenvolvimento sustentável? Cadê?