quinta-feira, 22 de julho de 2010

O Brasil há sete mil anos

por  Fábio Reynol (Agência Fapesp)

Um novo estudo lança luz sobre um dos maiores mistérios da pré-história brasileira: os sambaquis.

Sempre se considerou que uma das funções principais dos sambaquis estava relacionada a rituais funerários.

Mas estudos recentes sugerem que eles eram também marcadores territoriais, servindo de aviso a forasteiros.

Uma das descobertas recentes mostra que estes povos primitivos, que habitavam o litoral brasileiro do Nordeste ao Sul entre 7 mil e mil anos atrás, eram sedentários, o que exigia um maior grau de organização.

Antes, se supunha que eles eram nômades. Seus membros também eram mais numerosos do que se pensava. Estima-se que havia milhares pela costa brasileira e os grupos interagiam entre eles, como indicam os rituais funerários que eram partilhados por mais pessoas do que caberia em uma única comunidade.

Essa característica levou à hipótese de os sambaquis servirem como marcadores territoriais. O estudo foi coordenado por Paulo Antônio Dantas de Blasis, do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP. Desde 2005, pesquisadores coletam informações de sítios arqueológicos catarinenses sobre as sociedades que construíam os sambaquis, palavra que significa monte de conchas em tupi guarani. Covas rasas eram feitas na areia para depositar os mortos. Os restos de comida eram depositados sobre os corpos que, depois, ficavam sob conchas.

Esses túmulos eram construídos lado a lado, recebiam mais corpos em novas camadas e, por fim, eram agrupados em um único monte. 

O material encontrado pelo estudo evidencia grandes festas funerárias que reuniam várias comunidades sambaquianas.

Os pesquisadores fizeram escavações minuciosas, além de lançar mão de recursos como radares de superfície e instrumentos de datação de objetos com o método de carbono 14 e da luminescência oticamente
estimulada.

Uma das principais conquistas da pesquisa, segundo Blasis, foi a realização de mais de cem datações, o que permitiu detalhar o desenvolvimento destas sociedades e a construção de uma cronologia. A equipe escolheu Santa Catarina por ser o local onde se encontram os maiores sambaquis remanescentes.

- Havia sambaquis de cerca de 70 metros de altura. A maioria foi destruída, lamenta Paulo Blasis. A cal extraída dos sambaquis serviu de matéria-prima para a construção civil entre os séculos 17 e 19.

Entre as hipóteses para o desaparecimento destas sociedades está a miscigenação com povos de outros costumes. Um mistério que eles pretendem decifrar.

Sobre as enchentes no nordeste

por Redação Terra

As chuvas no Norte e no Nordeste e a seca no Sul, fenômenos que deixaram centenas de municípios brasileiros em estado de emergência nos últimos dias, podem inspirar questões de vestibular. Para Claudio Terezo, autor do livro Novo Dicionário de Geografia e professor da Escola São Paulo da Cruz, em Osasco, esses acontecimentos recentes podem aparecer relacionados a questões sobre os diferentes tipos de clima no País ou envolvendo assuntos históricos, por exemplo, sobre a seca no Nordeste.
 
"A seca no Nordeste não existe somente na história recente. A região convive com essas condições há muito tempo. Sua vegetação predominante, a caatinga, está adaptada a baixa precipitação anual (menos de 500 mm) e a chuvas irregulares. O sertanejo sabe que não se deve combater a seca e sim conviver com ela", afirma.
 
Segundo o geógrafo, alterações no clima local podem ocorrer em determinados períodos e não existe uma previsão para controlar a ação das intempéries. "O que pode e deveria ser feito é minimizar os efeitos sofridos. No caso das fortes chuvas que castigam o Nordeste, uma medida seria a não-ocupação de áreas de várzea (chamado também de segundo leito). Se tal ocupação não ocorresse, e normalmente ocorrem por motivos envolvendo problemas sociais, o regime de chuvas acima do normal causaria menos transtornos para a população. O que deve ficar claro é que o rio não invade a cidade e sim a cidade invade o rio", analisa.
 
Sobre a seca na região Sul, Terezo aponta como um dos principais fatores o mal uso da terra, sendo agravado por ações antrópicas (ação do homem) com grandes extensões de terra sendo utilizados pela agricultura intensiva e criação de animais. "Existe no Rio Grande do Sul um grande e grave problema com a desertificação de enormes áreas e, neste caso, o processo de degradação é praticamente irreversível. É importante lembrar que este fenômeno não atinge o Sul por igual. Se hoje essa região enfrenta problemas com seca, há pouco tempo Santa Catarina enfrentou graves problemas com chuvas", ressalta.
 
As questões envolvendo aspectos climáticos do Brasil podem ser apresentadas em forma de mapas ou gráficos, para análise do aluno. É fundamental saber os tipos de clima do país: "Na Região Norte e parte da Centro-Oeste, aparecem os climas equatorial úmido e equatorial subúmido. O restante da Região Centro-Oeste, o Nordeste e o Sudeste constituem o domínio do clima tropical, que apresentam variações conforme a atuação dos diversos sistema atmosféricos e dos fatores geográficos. O trópico de capricórnio, linha imaginária que marca o limite meridional da declinação anual do sol, sinaliza o inicio da área de clima subtropical. Atinge principalmente os Estados da Região Sul", ensina o professor.

Tsunami no nordeste brasileiro?

Risco para o Brasil é mínimo, mas existe.
Onda gigante devastaria cidades costeiras da Paraíba, invadindo lugares com até 10 km de distância do litoral



Os autores da idéia são os geofísicos Steven Ward (Universidade da Califórnia em Santa Cruz) e Simon Day (University College de Londres).

Eles publicaram em 2001 no periódico "Geophysical Research Letters" uma simulação mostrando o que aconteceria se entrasse em colapso uma parte do vulcão Cumbre Vieja, no arquipélago das Canárias, a menos de 200 km da costa noroeste da África.

Uma avalanche de 500 km3 de terreno dentro do oceano elevaria a água cerca de 900 m, concluíram os computadores de Ward e Day.

A oscilação se propagaria em ondas sucessivas, cada vez menores, por todo o Atlântico. Fora as ilhas, o primeiro estrago seria sentido uma hora depois na costa africana, com tsunamis de 50-100 m.

No que toca ao Brasil, o estrago ocorreria seis horas depois do colapso do vulcão. Iria de Fernando de Noronha e  da Paraíba  até o Amapá. Ondas de 4 m a 18 m se abateriam sobre capitais como Fortaleza, Natal, João Pessoa e São Luís.

Vários pesquisadores brasileiros conheciam a pesquisa de Ward e Day e a mencionaram logo após a tragédia na Ásia. Um dos primeiros foi o físico Celso Pinto de Melo, da Universidade Federal de Pernambuco, que escreveu um artigo para o informativo "Jornal da Ciência".

Melo afirmava no texto que as probabilidades de um evento desses seriam "minúsculas", mas que, na escala geológica de tempo (milhões de anos), até as coisas mais improváveis acabam acontecendo.

Lembrou que a vila de São Vicente, no litoral paulista, foi assolada em 1542, pouco após sua fundação, por ondas que se supõe tenham alcançado 8 m de altura e avançado 150 m terra adentro.

Um dos poucos cientistas interessados em tsunamis no Brasil é o geofísico peruano Jesús Berrocal, 66, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP.

Ele está preparando para as usinas nucleares de Angra dos Reis (RJ) um estudo sobre o risco de tsunamis na costa leste do Brasil e agora foi convidado a apressá-lo.

Além disso, vai participar em Portugal de um evento em memória dos 250 anos do terremoto de 1755 em Lisboa, em que a maioria das mortes teria sido causada pela onda gigante que se seguiu -o único grande exemplo de tsunami no Atlântico.

Segundo Berrocal, o risco de uma tsunami no Brasil "é muito pequeno, mas não é zero".

O fato é que os tsunamis são muito raros no Atlântico, pois 80% delas ocorrem no Pacífico. Os dados indicam que ondas acima de 7,5 m ocorrem a intervalos médios de 15 anos, segundo informou o sítio news@nature.com.

Segundo o Centro Benfield de Pesquisa de Riscos de Londres, ondas de 10 m ou mais ocorrem só a cada mil anos no Atlântico Norte, no Caribe e no Índico (onde ocorreu a tragédia).

O tempo cai para 250 anos no caso do Alasca e da costa pacífica da América do Sul, e 200 anos, no do Havaí.

O maior tsunami de que se tem notícia também atingiu o Brasil, com ondas de 20 metros de altura arrasando o litoral do Nordeste. Felizmente não havia nenhum ser humano por lá: a tragédia ocorreu há 65 milhões de anos, no final da era dos dinossauros. Sua única memória está guardada em um paredão de calcário no litoral de Pernambuco, que seu descobridor quer ver preservado como monumento geológico nacional.

O megatsunami foi um dos efeitos imediatos da queda do asteróide que eliminou os dinossauros e mais metade da vida no planeta, encerrando a chamada Era Mesozóica e o reinado dos grandes répteis sobre a Terra.

No Brasil ele até que foi suave. Mas, nas imediações do local do impacto, a península de Yucatán, no México, formaram-se ondas de até 1 quilômetro de altura, que destruíram completamente o Haiti e partes do litoral mexicano e norte-americano.

O cataclismo foi tão grave –estima-se que o impacto tenha liberado, instantaneamente, uma energia equivalente a 10 mil vezes a explosão de todo o arsenal nuclear do planeta– que mudou a geologia do continente. Os escombros do maremoto foram preservados nas rochas da região afetada, o que tornou possível aos cientistas estabelecer o local da queda, a cratera de Chicxulub.

Maria Farinha

As primeiras evidências do tsunami no Brasil foram encontradas pelo geólogo Gilberto Athayde Albertão, da Petrobras. Estudando as rochas calcárias da chamada formação Maria Farinha, no litoral de Pernambuco e Paraíba, o cientista descobriu uma série de anomalias ligadas ao impacto que extinguiu os dinossauros e à onda monstruosa provocada por ele.

Trata-se do único local em toda a América do Sul onde foi encontrado um registro geológico da chamada fronteira K-T (Cretáceo-Terciário), o limite entre as eras marcado pelo choque do asteróide. Entender esse limite é fundamental para a compreensão de como evoluiu a vida na Terra, pois ele encerra uma das maiores extinções em massa da história.

As evidências da fronteira K-T têm sido encontradas em lugares tão diferentes quanto a Itália, a Dinamarca e a Nova Zelândia. Elas consistem principalmente em microesférulas (grãos de vidro microscópicos produzidos pelo calor do impacto e lançados na atmosfera), no chamado quartzo de impacto (cristais também transformados pelo choque) e em níveis anormais de irídio, um elemento químico raro trazido à Terra por meteoritos.

Tais pistas nunca haviam sido localizadas na África ou na América do Sul, o que levou alguns céticos a duvidar da hipótese da queda de asteróide como causadora da extinção dos dinossauros.

No meio dos anos 90, Albertão, então aluno de mestrado na Universidade Federal de Ouro Preto, se lançou à busca. “Achei que fosse estar procurando uma agulha no palheiro”, recorda-se. “Tinha todas as bacias sedimentares do país para procurar.”

Maremoto

O pesquisador foi levado a Pernambuco após o levantamento de todas as rochas suspeitas de abrigar a fronteira K-T na base de dados da Petrobras. Foi parar na pedreira Poty, uma mina de calcário a 2 quilômetros do mar no município de Paulista, perto de Recife.

O local já havia sido estudado por paleontólogos (especialistas em fósseis) da Universidade Federal de Pernambuco. E havia coisas estranhas ali: fósseis de foraminíferos, animais marinhos microscópicos cujas carapaças compõem a rocha calcária, eram substituídos por outras espécies de repente ao longo do paredão rochoso.

Uma análise química realizada nos EUA confirmou que, em um certo ponto da rocha, havia 69 vezes mais irídio do que no restante dela. E as microesférulas de vidro estavam lá.

Mas não foi só: Albertão também encontrou no nível das anomalias fragmentos de rocha e fósseis de vários tamanhos diferentes misturados à rocha, numa maçaroca que dava a impressão de que algum evento catastrófico havia revolvido completamente o fundo do mar –um maremoto.

Em um artigo científico publicado em 1996 no periódico “Sedimentary Geology”, Albertão calculou a altura e a velocidade das ondas capazes de produzir uma perturbação tão grande: 20 metros e 112 km/h. Agora, ele prepara uma descrição mais detalhada do tsunami, a ser publicada até 2007 num livro pela editora holandesa Elsevier.

O cientista tenta desde 2003 transformar o paredão da pedreira Poty num sítio do patrimônio geológico nacional. O comitê do patrimônio já aceitou a proposta. “Mas é preciso anuência da empresa e a sensibilização das autoridades locais para fazer um projeto de preservação ali”, conta.

Os resultados seriam bem parecidos com o que você viu na televisão, nas revistas e na internet desde o dia 26 de dezembro. Milhares de pessoas desabrigadas. Corpos sendo resgatados em alto-mar. Crianças órfãs, plantações destruídas e outra infinidade de mazelas que as catástrofes naturais têm uma habilidade única de provocar.

Mas um tsunami como o da Ásia é quase impossível de acontecer por aqui. Lá, a seqüência de ondas gigantes foi resultado de um terremoto provocado pelo movimento das placas tectônicas Australiana e Eurasiana. As placas tectônicas, encaixadas como num gigantesco quebra-cabeça, formam um manto sobre o magma, a camada do centro da Terra composta por rochas em estado fluido.

Quando uma dessas placas raspa ou se encosta em outra, nós sentimos tremores nos continentes. Se isso ocorre no fundo do mar, a energia liberada forma uma onda, que vai se propagando até atingir terra firme. Foi exatamente o que ocorreu no sul da Ásia. “Já o Brasil, para nossa sorte, está localizado bem no centro de uma placa e, mesmo quando ela se move, provoca apenas abalos de pouca intensidade”, diz o professor de engenharia oceânica da UFRJ Paulo Cesar Rosman.

Acontece que terremotos no fundo do mar não são a única razão para o surgimento de um tsunami. Quedas de meteoros e erupções vulcânicas também podem gerar ondas gigantes.

Nesses casos, a força do tsunami depende do tamanho do material que é arremessado ao mar. Se você acha que escapamos mais uma vez, engana-se. O pesquisador Steven Ward, da Universidade da Califórnia, é autor de um estudo sobre o impacto que uma erupção do vulcão Cumbre Vieja poderia causar nas Américas. O vulcão está localizado na ilha La Palma, no arquipélago das Ilhas Canárias, perto da costa africana.

De acordo com Ward, uma próxima erupção pode fazer parte da ilha deslizar e cair no mar. Essa queda produziria uma energia tão grande que, em poucas horas, ondas gigantescas se formariam e destruiriam várias ilhas do Caribe, alguns estados americanos e o Norte e Nordeste brasileiros. “Ninguém sabe ao certo quando o Cumbre Vieja pode entrar em erupção”, diz o pesquisador americano. “Ele entrou em colapso há 550 mil anos.

Desde então, reconstruiu- se e pode estar voltando novamente ao fim de seu ciclo.” Como o Brasil não tem sistema de alarme de tsunami, moradores e turistas seriam pegos de surpresa, repetindo as cenas trágicas que aconteceram no último ano na Ásia.
( Fonte : Click, PB)